29.4.22

Pachinko: Livro x Série

Ano passado li Pachinko que conta a saga de uma família coreana desde a ocupação japonesa da Coréia (de 1910 a 1945) até 1989. 

A ocupação japonesa da Coréia foi brutal e os coreanos que imigraram para o Japão foram tratados como cidadãos de segunda classe até muitos anos depois da guerra. Pachinko é um jogo que mistura fliperama com caça-niqueis e é um jogo que depende da sorte (e de alguns ajustes). Os japoneses adoram jogar pachinko, que foi proíbido no Japão durante a guerra mas voltou logo depois. Trabalhar no pachinko era uma das atividades que os coreanos (e descendentes) conseguiam exercer já que não podiam ser policiais, professores, enfermeiros, etc. O pachinko também serve de metáfora para a história dessa família que está sempre sujeita a elementos que não depende deles mas que estão sempre dispostos a jogar, sobreviver e prosperar.

Quando a Apple TV+ anunciou que estava filmando a série fiquei curiosa e achei o formato adequado. Poderia ser um filme? Sim, mas como a história é longa e passa por muitas décadas o formato série é melhor. 

A série é muito bem feita. Fotografia, direção, figurino (usaria todas as roupas dos coreanos de 1920), trilha sonora e até como escolheram contar a história. As três atrizes que fazem a Sunja são maravilhosas: Jeon Yu-Na (criança), Kim Minha (adulta) e a oscarizada Youn Yuh-yung (idosa). O Lee Minho é o Hansu que tinha imaginado lendo o livro e me apeguei ao Isak (Steve Sanghyun Noh) da série. O elenco é todo muito bom (e poliglota).

Uma coisa interessante da série é que as legendas são em 3 cores: branco para as partes faladas em inglês, amarelo para coreano e azul para japonês. Assim sabemos quem fala o que e também as falas que misturam as duas linguas. Afinal é sobre imigrantes e seus descendentes.

Antes da série estrear, no final de março, reli o livro para lembrar de vários detalhes que já tinha esquecido. 

Sei que cada meio é diferente para contar a história, cada um com suas vantagens, e não devem ser comparados, mas vou falar das diferenças e semelhanças. Sem spoilers (eu acho). 

A maior semelhança é que livro e série emocionam igualmente.

A maior diferença da série para o livro é que a história no livro acontece na ordem cronológica, de 1910 a 1989. Na série é como se fosse um paralelo entre a vida do Solomon, o neto da Sunja, em 1989 e a dela desde que nasceu, então, nos episódios, o passado e presente se alternam e as vezes a narração de um sobrepõe o outro. A imigrante que chega no Japão e seu neto, a segunda geração da família em solo japonês.

Isso, pra mim, foi bom porque no livro quando chega no Solomon a Sunja meio que ficou abandonada por alguns capítulos. Na série ela está sempre presente.

Tem personagens do livro que sumiram, alguns ficaram menores (por enquanto), outros aparecem mais e também tem os que são exclusivos da série.

A história do Solomon é um pouco diferente. Na série não existe a namorada americana-coreana do Solomon, que, para mim, abordava melhor o tema imigração e diferentes tipos (já que a família dela foi para os EUA) mas a série mostra bem como o Solomon não se sente pertencente a nenhum dos três lugares: no Japão ele é coreano (mesmo tendo nascido e vivido no Japão), nos EUA ele é um asiático, na Coréia ele é estrangeiro.

Solomon (Jin Ha) da série é mais ambicioso e tem espaço para seguir a história dele para além do livro, inclusive essa busca de identidade.

A série tem uma personagem maravilhosa (a senhora coreana que não quer vender a casa) que no livro não passa de duas frases. Na série essa senhora tem destaque e uma das melhores cenas.

Na série Solomon e Hana tem sua história reduzida mas o desfecho é parecido e importante para ele.

A história da Sunja idosa na série é um pouco diferente e ela é mais participativa na vida adulta do Solomon. 

A história da Sunja criança até a imigração para o Japão é quase igual ao livro. A série nos dá vários elementos a mais que não tem no livro e melhora a história. O episódio 4 é um exemplo disso e é maravilhoso.

Sunja e Isak em Osaka na série tem algumas diferenças para o livro mas deixa a história mais interessante. O irmão do Isak e a esposa seguem a história do livro.

A série introduz o Noa no último episódio da temporada, ainda criança (o garotinho que faz é sensacional). Não sei se vai seguir a história do livro mas precisamos saber! Também quero saber mais do Mozazu da série que até agora só vimos versão bebê e senhor de meia idade (o ótimo Soji Arai).

Uma coisa que a série fez lindamente foi toda a parte da Sunja com o Hansu. E faz melhor do que o livro quando consegue mostrar como o Hansu é uma espécie de sombra pairando sobre a vida da Sunja. Na série vemos os vários lados do Hansu que ganhou um episódio próprio contando a história dele jovem durante o terremoto de 1923 em Yokohama, que não tem no livro, e é ótimo! Vamos combinar que o Lee Minho é bonito e carismático.

Ainda não sei se terá uma segunda temporada (dedinhos cruzados) mas essa primeira temporada deixou de fora o que considero a melhor parte da história: dos anos da segunda guerra até 1965. Acho que quem não leu o livro ficou curioso para saber o que acontece com alguns personagens, e até quem leu também porque tem algumas mudanças.

Espero que tenham feito essa série como uma novela coreana de 16 episódios que dividiram em 2 temporadas de 8 episódios.

UPDATE: foi só eu publicar esse post que a Apple TV+ anunciou que vai ter a segunda temporada. Ainda bem.

Enquanto isso vou deixar a abertura da série aqui. No último episódio da temporada a música foi cantada em coreano.


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