4.10.21

Momento TOC livros 15 (parte 4)

Aconteceu. Cheguei nos 80 livros. Dei uma desacelerada durante as Olimpiadas mas assim que acabou voltei ao ritmo. E ainda faltam mais de dois meses para o fim do ano. Não chego a 100 livros, mas vou deixar os últimos livros do ano e o resumo das leituras para o próximo post (no fim do ano).

Os outros livros de 2021: Parte 1 (do 1 ao 20), Parte 2 (21 ao 40), Parte 3 (41 ao 60)

Vamos a mais 20 livros que li em 2021.

- The Inheritance Games - Jennifer Lynn Barnes - (em português: Jogos de Herança) - sobre Avery, uma garota de 17 anos, orfã de mãe e abandonada pelo pai, que mora com a irmã e tem que se virar para trabalhar e estudar (ela é ótima aluna). Um dia Avery é chamada na sala da diretora para ser informada que precisa comparecer a leitura do testamento de um bilionário. Esse senhor rico tem duas filhas e 4 netos mas deixou muito pouco de sua fortuna para eles, os 42 bilhões foram todos para Avery que nunca viu esse senhor na vida. A primeira coisa a ser descartada é parentesco porque fizeram o DNA. Ele também deixou cartas para os  netos que leva a um jogo onde vão descobrir porque Avery é a herdeira. Quando peguei esse livro para ler não sabia que era juvenil, e como tal é um mistério bem divertido. Tem uma continuação mas não fiquei tão curiosa assim para saber o que acontece.

- Romantic Outlaws - Charlotte Gordon - (em português: Mulheres Extraodinárias - Criadoras e Criatura) - em capitulos alternados temos a história de Mary Wollstonecraft e de sua filha Mary Shelley. Ambas foram escritoras revolucionárias, tiveram filhos fora do casamento, viveram temporadas fora da Inglaterra e casaram com homens que também escreviam. Mary Wollstonecraft escreveu seu manifesto feminista, que influenciou muitas escritoras que vieram a seguir (de Jane Austen a Virginia Woolf), e outros livros, inclusive um guia de viagem, no fim do século 18 e Mary Shelly escreveu Frankenstein no início do século 19. A autora fez uma pesquisa extensiva das cartas e diários que ambas deixaram e dá uma excelente dimensão dessas duas mulheres a frente de seu tempo.

- Beach Read - Emily Henry - Gostei tanto do outro livro dessa autora que peguei esse. January é uma escritora de romances que acreditava no "felizes para sempre", tinha um namorado perfeito, até que seu pai faleceu e ela descobriu que ele tinha traído sua mãe. O pai deixou uma casa de praia para ela com uma carta e como January acabou o namoro, teve que sair do apartamento, está sem dinheiro e precisa escrever um livro, ela vai para essa casa. Chegando lá ela descobre que seu vizinho é Gus, um colega da faculdade que agora é escritor de sucesso de livros de ficção. Os dois estão meio sem inspiração para escrever seus livros e decidem fazer uma aposta: ele tem que escrever uma história com um final feliz e ela uma que não tenha um final feliz. E, para que consigam escrever no genero oposto, um tem que ensinar para o outro como faz. É um romance chick lit. Achei ok, as partes que falam sobre o processo da escrita são bons, o romance deles engata mas tem uns detalhes que achei que forçou a amizade.

- Dupla Falta - Lionel Shriver - Um livro sobre um casal de pessoas competitivas cheio de referências ao tênis. Willy é uma tenista profissional que joga desde os 5 anos. Ela é obcecada pelo tênis, é a vida dela, é ela. Aos 23 anos ela está um pouco atrás das outras porque não teve apoio da família, teve que ir para faculdade e perdeu alguns anos de campeonatos que poderia ter lhe dado mais posições no ranking. Mas ela tem muita vontade de vencer e é viciada no jogo. Eric é um rapaz de 22 anos que começou a jogar tênis aos 18 e ele tem tudo que Willy não tem: talento, dinheiro, um diploma, e se importa menos com o jogo o que faz dele extremamente eficiente em quadra. Quando se conhecem, e se apaixonam, ela é 370 do ranking, ele é 970 e não consegue ganhar dela. Eles se casam e a medida que ele vai melhorando seu jogo, ganhando mais torneios, ela vai ficando insegura, paranóica, e mais competitiva com ele. O relacionamento é radioativo, cheio de provocações (dela) e até agressivo. Willy foi uma das personagens mais irritantes que li esse ano, e por isso o livro é bom.

- Vista Chinesa - Tatiana Salem Levy - um livro sobre um tema pesado mas que o aborda sensações e sentimentos com muita sinceridade. Julia é uma arquiteta carioca que um dia, antes de uma reunião, ela decide fazer uma corrida na estrada que leva até a Vista Chinesa. No meio do caminho um homem a aborda com uma arma em sua cabeça, a leva para a floresta e a estupra. Julia relata sua história em detalhes mas por partes que são alternadas com passado antes do acontecimento e o presente. Um livro curto, pesado e muito bom.

- Qual o Problema das Mulheres? - Jacky Fleming - Uma HQ onde a autora, através de desenhos e de um texto extremamente sarcástico e irônico, tenta entender por que as mulheres não constam na história das ciências e da literatura. Por que só conhecemos Marie Curie? Os desenhos são bacanas e no fim ela lista várias mulheres médicas, botaninstas, matemáticas, poetisas, que foram ignoradas. Só achei o texto sarcástico demais, as vezes perde o sentido.

- Luzes de Emergência Se Acenderão Automaticamente - Luisa Geisler - Henrique é um rapaz de 23 anos que estuda e trabalha. Seu melhor amigo caiu da rede, bateu a cabeça e está em coma. Perto do Natal de 2011, Gabriel já está em coma há 3 meses e Henrique começa escrever cartas para o amigo contando os acontecimentos para que quando o amigo acorde possa ler tudo que aconteceu. Henrique conta da namorada Manu, do irmão do Gabriel, e do seu novo amigo Dante. Em algum ponto os relatórios se transformam em reflexões sobre a vida, o universo e tudo mais. 

- Em Ondas - AJ Dungo - uma HQ com desenhos lindos que conta a história do surf desde os tempos dos povos polinésios alternada com a história da Kristen, a namorada do autor. Como o surf foi uma coisa que Kristen ensinou ao autor e foi o que o ajudou em seu luto, ele decide contar a história do esporte e duas lendas: Duke Kahanamoku e Tom Blake. A parte sobre a Kristen é triste, tem poucas partes fofas mas ele a faz quase uma musa/santa, uma manic pixie dream girl. O que importa é que ele chega a mesma conclusão que Lulu Santos: a vida vem em ondas como o mar, num indo e vindo infinito.

- Kentukis - Samanta Schweblin - Kentukis são bichos de pelúcia em vários formatos (panda, corvo, topeira, dragão) que tem rodinhas nos pés e cameras nos olhos. Acontece que quem tem um Kentuki não é quem o controla, o bicho é controlado por outra pessoa aleatória. Tem quem compre o bicho e quem compre o controle de um bicho. Quem compra o controle não sabe onde vai estar o bicho que vai controlar, e quem compra o bicho não sabe quem vai controlar. E aí tem várias histórias de pessoas que compraram o bicho e de pessoas que escolheram controlar e como se dá essa interação de diferentes maneiras (e também como pode dar errado). O ser humano é muito estranho.

- Correntes - Olga TokarczukNo início parece um livro com pequenos contos ou anotações mas existe um fio que vai costurando. É como uma conversa que os assuntos vão surgindo, as vezes se aprofunda e em outras parece que foram esquecidos para voltar no fim da conversa. É um livro sobre viagem, pessoas viajando e manter-se em movimento que não dá vontade de viajar. Tem muito sobre anatomia e técnicas de preservação do corpo (e partes) humano. 

- The Heart Principle -Helen Hoang - saiu o terceiro livro da série com o melhor personagem secundário dos outros dois livros: o Quan. Como a autora está no espectro autista, nos livros, um dos personagens também está. O primeiro livro, The Kiss Quotient, é a história de Michael (primo bonitão do Quan) e Stella (uma economista com Aspergers). O segundo livro, The Bride Test, é sobre Esme e Khai (irmão bonitão e autista do Quan). Nesse terceiro livro temos a história da Anna, uma vilonista, que tem um burn out depois de uma turnê e se descobre no espectro autista depois de anos mimicando emoções e expressões para ser socialmente aceita e não decepcionar as expectativas de sua família. Seu namorado Julian quer abrir o relacionamento para sair com outras pessoas e Anna fica arrasada mas decide que ela também pode explorar as oportunidades e se inscreve num app para encontros de uma noite. O Quan, por sua vez, está recuperado de uma doença que o deixou com a confiança abalada e Michael o convence que está na hora de voltar a sair. Quan e Anna deram match. Achei que ia ser um romance leve mas é um livro mais melancólico, a autora aborda uns assuntos mais pesados além do autismo e depressão, como cuidar de um familiar em seus últimos dias. É menos steamy que o primeiro livro e mais steamy do que o segundo. Só achei o final corrido e o Quan merecia mais páginas.

- A Estrangeira - Claudia Durastanti - A narradora é filha de pais surdos e todas as partes desse livro que ela fala deles, de sua relação com eles e a deles com o mundo, são muito boas. Ela conta a história de toda a sua familia, fala de trabalho, saúde e amor. Ela vive uma eterna sensação de ser estrangeira: ela escuta numa família de surdos, nasceu em um país e depois cresceu em outro, fala com imperfeição devido crescer com pais surdos, adulta mora em um terceiro país. Não falta drama na história dela. A melhor frase do livro que define a relação dos pais é: "A vida deles juntos era marcada por conversas alegres que se transformavam em cacos de vidro no chão.".

- Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa - Uma HQ com roteiro de Eloar Guazzelli Filho e arte de Rodrigo Rosa - Clássico da literatura brasileira que conta a história de Riobaldo e Diadorim no sertão brasileiro. É um faroeste nacional com as disputas de grupos de jagunços (muito tiroteio), criticas sociais, vida no sertão e Riobaldo não sabendo lidar com seus sentimentos por Diadorim. Não li a versão tradicional, mas gostei dessa HQ, os desenhos são bonitos. O texto da HQ é o mesmo do original e confesso que, muitas vezes, achei confuso, mas também encontrei frases belíssimas e poéticas.

- Beautiful World, Where Are You - Sally Rooney - (em português: Belo Mundo, Onde Você Está) - O livro novo da autora de Normal People (livro que achei ok mas amei a série). Aqui temos a história de Alice e Eileen que são melhores amigas desde a faculdade, foram roommates, mas agora Alice (que é escritora famosa) está em uma cidade pequena e Eileen (que trabalha numa revista) em Dublin. Os capítulos são alternados entre Alice, Eileen, e os emails de uma para a outra. As duas se comunicam através de e-mails longos, filosóficos, quase dissertações com assuntos variados: consumo, mudanças climáticas, religião, beleza, sexualidade e sexo, marxismo, e, claro, suas vidas profissionais e amorosas. O capitulo 23 é lindo. Os capitulos das duas tem uma narração em terceira pessoa que na, minha cabeça, era o narrador dos filmes do Wes Anderson.

- Tudo é Rio - Carla Madeira - Conta a histtória de Dalva, Venâncio e Lucy, três pessoas que tem suas vidas entrelaçadas. Mas também conta as histórias das outras pessoas na periferia da vida desses três. É um livro de apenas 200 páginas com prosa fluída e as vezes poética. É sobre a vida, o universo e tudo mais com plot twist.

- With You Forever - Chloe Liese - quarto livro numa série (da qual só li o segundo e esse) e também tem uma playlist no spotify. A autora é autista e nos dois livros que li tem personagens neurodivergentes, nesse é o Axel, um artista (pintor) que precisa reformar a casa de campo da familia mas quer fazer sem que os outros saibam. Ele emprestou dinheiro para um dos irmãos e está meio sem grana para a reforma, mas um tio deixou uma herança. Acontece que para pegar o dinheiro da herança ele tem que casar (e ficar casado um ano). A Rooney é melhor amiga da cunhada dele e os dois tem um crush mutuo há dois anos mas ele a evita. Rooney tem uma doença crônica, precisa de um tempo da vida e do trabalho, e sua amiga oferece a casa de campo da familia. Ronney chega na casa e rola torta de climão porque não sabia que ele estaria lá. Depois ela fica sabendo do babado da herança e oferece para casar porque ela pode, quer fazer algo pela familia dele que a acolheu mesmo que fique em segredo. Aí eles vão descobrindo que podem confiar um no outro, que se sentem confortáveis e claro que o crush fala mais alto. É um livro ok, a playlist é melhor, tem muitas músicas do Harry Styles. 

- Dias Bárbaros - William Finnegan - O subtítulo desse livro é Uma Vida No Surfe e é uma autobiografia, ou melhor, um livro de memórias do surfista amador e jornalista Bill Finnegan. Surfista amador mas surfista obcecado pelo surf e por buscar ondas. O surf para Bill é mais do que um esporte, é um estilo de vida e ele começou muito cedo nas ondas da California, depois cresceu no Hawaii, passou 3 anos surfando ondas no sudoeste asiático, Australia e Africa. Seu trabalho era ser jornalista político em áreas de conflito mas mesmo nesse lugares ele arranjava um tempo para surfar. Ele é daqueles surfistas que uma vez encontrada uma onda quer voltar a ela sempre. MAS esse livro poderia ter umas 150 páginas a menos, descobri que tem um limite para o tanto de ondas e caldos que uma pessoa pode ler. Achei também que, para ele, as únicas pessoas interessantes eram seus brothers surfistas tão obcecados quanto ele. As melhores partes são algumas ondas que ele pegou, a parte que ele viaja pela Asia, e os anos dele na ilha da Madeira.

- They Both Die At The End - Adam Silvera - (em português: Os Dois Morrem No Final) - Mateo o Rufus são dois rapazes de 18 anos que, a meia noite de 05/09, recebem a temida ligação do Death-Cast dizendo que "Nas próximas 24 horas você vai morrer". Mateo é um rapaz recluso que quase não sai de casa, seu pai está em coma há duas semanas e sua mãe morreu no parto. Rufus é rebelde com causa, sua familia toda morreu num acidente e na hora que ele recebe a ligação está batendo no namorado da sua ex-namorada. Mateo e Rufus se conhecem via Last Friend, uma app que junta pessoas que querem um amigo para o último dia (e ambos tem seus motivos para não querer passar com os amigos que já tem). O livro segue o dia de Mateo e Rufus e, as vezes, de outras pessoas que receberam ou não a ligação (algumas dessas outras pessoas até achei mais interessante). Sim, eles morrem no fim, mas antes tem muito de A vida, O universo e Tudo mais. É ok, os meninos são fofos, gostaria de saber mais sobre o Death cast mas já li o ótimo Crônica de Uma Morte Anunciada do Gabriel Garcia Marquez que aborda os temas filosóficos muito melhor. 

- Harlem Shuffle - Colson Whitehead - (em português: Trapaça no Harlem) - Ray Carney é um vendedor de móveis novos e usados e nas horas vagas ele é recebe coisas adquiridas de forma não tão legal e as passa a diante. Um dia seu primo Freddie diz que tem um "trabalho" para ele mas Carney diz que não quer participar e não participa, mas o primo Freddie o mete na roubada de qualquer jeito. Carney consegue se safar dar situações de um jeito que as vezes fica difícil de acreditar. Ele está sempre a margem da ação e até quando ele é o agente da ação, são outros que executam a parte difícil. Carney é ambicioso e de vez em quando vingativo. Tem muito sobre o Harlem nos anos 60 e tem personagens secundários interessantes. Muitas partes são boas mas me frustrava quando, no meio de uma ação, aparecia um flashback explicando alguma coisa. Se Barry Jenkins ou Spike Lee fizerem esse filme acho que vai ficar melhor que o livro.

- The People We Keep - Allison Larkin - April é uma garota de 16 anos que mora numa cidadezinha de NY. A mãe a abandonou e o pai (viciado em jogo) passa mais tempo com a nova namorada do que em casa. April gosta de tocar violão, compõe músicas, passa o tempo com seu namorado Matty, trabalha no restaurante da Margot e não é muito boa na escola. Um dia ela briga com o pai (e a namorada do pai), ele quebra seu violão, ela decide ir embora da cidade sem olhar para trás e buscar uma vida diferente. Ela passa por vários lugares, conhece várias pessoas, algumas muito importantes que marcam sua vida e que ela tem vontade de manter, que a fazem se sentir em casa. "It's amazing how much you can miss people you only got to be with for one tiny little perfect bit of time; how a place where you barely got to live can be the closest thing you've ever had to home". April cita muitas músicas, muito Bob Dylan, vou procurar uma playlist porque certamente alguém já fez. Achei bom (mesmo com alguns momentos, que sei lá, estranhos).


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