7.3.19

Book Report: Bad Blood - John Carreyrou

O sub-título desse livro é: Fraude Bilionária no Vale do Silício, o que resume bem o conteúdo do livro, mas nem precisava porque o trocadilho com sangue ruim é ótimo.


O livro conta a história da start up Theranos e sua fundadora Elizabeth Holmes. Aos 19 anos a Elizabeth Holmes queria começar a ganhar dinheiro e teve uma idéia que veio de um medo seu. Como ela tinha medo de agulhas pensou que seria genial se os exames de sangue pudessem ser feitos a partir de gotas de sangue tiradas da ponta do dedo. Só um furinho e pronto. Ela abandonou a universidade (Stanford) e foi vender sua idéia. Inicialmente ela conseguiu um milhão de dólares de um vizinho para começar.

Além de fazer os exames só usando gotas de sangue ela queria uma máquina portátil que fizesse isso. E ela queria que fosse abrangente, coisa de 200 tipos de exames. Ela queria o iPhone dos exames de sangue. Ela queria ser Steve Jobs (e se vestia como ele, e chegou a contratar designers da Apple). Elizabeth devia ser muito boa em vender sua idéia porque as pessoas estavam dando dinheiro para ela.

Aqui vale dizer que ela vem de uma família influente com algumas conexões.

Já o desenvolvimento do produto não estava andando. A máquina não conseguia fazer os exames então a Theranos comprou outras máquinas existentes no mercado para fazer os exames. Havia o problema de ter que diluir o sangue para fazer os exames e isso aumentava a margem de erro.

Qualquer pessoa que já fez um exame de sangue sabe que tiram pelo menos 2 tubinhos daqueles direto da veia. Além disso, são vários métodos de analise de sangue: por reação química, por luz, por calor...Só com essa informação já dá para perceber que o que ela queria seria dificílimo.

Acontece que as pessoas querem acreditar. E o que ela oferecia era revolucionário e uma solução ótima para quem tem quem fazer vários exames constantemente, para quem tem medo de agulhas e para crianças. Elizabeth também dizia que era uma forma de enfrentar a grande industria farmaceutica e baixar os gastos dos pacientes.

No início Elizabeth estava só convencendo gente rica a dar dinheiro para ela, mas em algum momento ela teria que mostrar resultados. Como boa ambiciosa que era foi atrás de colocar sua máquina (que não funcionava) nas lojas da Walgreens (rede de farmácias dos EUA) e Safeway (rede de supermercados). O dono da Walgreens foi alertado por um de seus consultores da área de saúde que era roubada investir nisso mas ele preferiu acreditar na Elizabeth. Ela é boa vendedora, sabe convecer as pessoas, fala numa voz mais grave de propósito (tem videos no youtube, a voz é muito estranha).

Elizabeth conseguiu captar 700 milhões de dolares em investimentos. Ela inclusive foi capa da Forbes e da Fortune. Primeira mulher bilionária do Vale do Silício, a empresa dela estava valendo 9 bilhões e ela, Elizabeth, 4 bilhões de dólares. (Esse mundo da especulação financeira é bizarro.)

E aí a empresa começou entrar numa zona perigosa. Os exames davam resultados errados, muitas pessoas foram prejudicadas. Enquanto isso dentro da Theranos a rotatividade de funcionários era altíssima, Elizabeth despediu seu chefe de financeiro (ele percebeu as enganações e roubos) no início e nunca mais contratou outro. Tudo na Theranos era segredo absoluto, até os laboratórios. As equipes trabalhavam sem interagir umas com as outras e quem coordenava o escritório era o sócio de Elizabeth (e seu namorado) Sunny Balwani.

Tudo veio abaixo quando um ex-chefe de laboratório da Theranos decidiu contar tudo para John Carreyou, jornalista do Wall Street Journal. E no livro ele também conta como fez toda a pesquisa para escrever o artigo que deu início ao desmascaramento da enganção que era a Theranos.

A leitura é ótima, vale a pena. É uma história que tem até detetive particular quebrando vidro de carro para pegar papéis, muitas ameaças aos ex-funcionários e ao jornalista, advogados do mal, até general do exercito americano e ex-secretário de estado caíram no golpe. Melhor que a ficção.

As empresas do Vale do Silício que são avaliadas acima de um bilhão de dólares são chamadas de unicórnios. A Elizabeth Holmes queria muito ser um unicórnio, ela queria ser rica e queria poder. Acontece que ela esqueceu que não dá para mexer com saúde humana sem saber o que está fazendo, as consequências podem ser graves, não é como criar uma rede social ou uma app de caronas pagas ou uma engenhoca de busca.

A HBO vai lançar um documentário sobre esse babado e parece que vai ter um filme baseado no livro com a Jennifer Lawrence fazendo a Elizabeth Holmes. 

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