2.3.19

Analisando a música: True Faith (New Order)

Uma das primeiras músicas que analisei foi Bizarre Love Triangle, as músicas do New Order são ótimas! Até hoje tenho o vinil do Substance, uma coletânea que eles lançaram em 1987 e escutei muito.

dois discos: cada um com 6 músicas
3 de cada lado
faixas enormes = músicas com muitos minutos

Além de Bizarre Love Triangle, tem Blue Monday, Perfect Kiss, Procession e True Faith. Todas muitos tocadas na época em todos os lugares. E tocam até hoje.

Aí mês passado a Calvin Klein lançou uma propaganda com os millenials da vez (o namorado da internet Noah Centineo, o fofo do Shawn Mendes, a Kendall Jenner e mais alguns) mostrando toda sua juventude na tela ao som de....wait for it...True Faith. E como eu disse no post de Don't Stop do Foster The People: propaganda é a alma do negócio, e quando é bem feita rende para todos os lados. Quando acertam na trilha sonora é sucesso garantido. Então temos: jovens seminus em todo seu tédio millenial ao som de New Order.

Acho que, desses millenials (alguns acho que já são geração Z), nenhum era nascido quando essa música foi lançada, o que mostra o quanto as músicas do New Order resistiram bem ao tempo.

No post de Bizarre Love Triangle disse que o New Order foi a banda que surgiu com o fim do Joy Division. E no post de Love Will Tear Us Apart (do Joy Division) contei a trágica história do Ian Curtis. O som do Joy Division era um pós-punk melódico e já o New Order abraçou os sons eletrônicos da década de 1980 e praticamente lançou um gênero.

Mas sobre o que é True Faith que está na boca desses xóvens?

Muitas pessoas no forum acham que essa é uma música sobre drogas. Sempre acham isso, e dessa vez talvez tenham razão.

O Peter Hook, baixista da banda, disse numa entrevista que: "True Faith é uma das melhores letras do New Order, na minha opinião, mas não, não é sobre heroína que é algo que nenhum das letras de nossas músicas menciona. Acho que é fácil de ver que a letra reflete estar sob alguma influência." Já o Bernard Sumner, guitarrista da banda, disse em outra entrevista que é sim sobre dependência de drogas, ele diz que quando escreveu a música imaginou o ponto de vista de um viciado.

Como influência, dependência e vício podem vir de várias coisas, inclusive drogas (legais e ilegais), vamos analisar a música.


I feel so extraordinary
Something's got a hold on me
I get this feeling I'm in motion
A sudden sense of liberty
I don't care 'cause I'm not there
And I don't care if I'm here tomorrow
Again and again I've taken too much
Of the things that cost you too much

Então temos uma pessoa se sentindo extraordinária, como se algo estivesse segurando (dando segurança). A sensação é de estar em movimento e de liberdade. Essa pessoa não se importa porque não está lá (está viajando na sensação) e também não se importa se não estiver aqui amanhã. Como diria a The Strokes, jovens de outra geração: YOLO, só se vive uma vez.
E repetidamente vem tirando muito das coisas que custam caro a outro. (Se for sobre um drogado essa é uma forma poética de dizer que está roubando)

Para começar temos alguém se sentindo a última coca-cola do deserto (gíria bem novinha) sem querer saber do amanhã e roubando coisas. Vamos colocar os cães para farejar.

I used to think that the days would never come
I'd see delight in the shade of the morning sun
My morning sun is the drug that brings me near
To the childhood I lost replaced by fear
I used to think that the day would never come
That my life would depend on the morning sun

E aí temos uma pessoa que nunca achou que sentiria prazer na sombra do sol matinal. Aí ele explica que o sol matinal pessoal dele é essa droga que o faz chegar mais perto da infância perdida que foi substituída pelo medo. E nunca achou que chegaria o dia que a vida iria depender desse sol da manhã para encarar a realidade.

O comercial da Calvin Klein usa a primeira estrofe e esse refrão na propaganda. Que dentro do conceito de vender a marca para jovens que não se preocupam muito com o que pode acontecer, dizer que usar aquelas cuecas justinhas dá sensação de liberdade faz todo sentido. E ainda tem esses millenials/geração Z que são super nostálgicos com infância (e mal sairam dela). Tio Calvin sabe das coisas além de frequentar a praia de Ipanema.

When I was a very small boy
Very small boys talked to me
Now that we've grown up together
They're afraid of what they see
That's the price that we all pay
And the value of destiny comes to nothing
I can't tell you where we're going
I guess there was just no way of knowing

Nosso narrador diz que quando era um menino, outros meninos falavam com ele. Agora que cresceram eles tem medo do que vêem. Será que os amigos tem medo de vê-lo nessa situação de junkie?

Nessa parte o Bernard Sumner disse que a frase original era "Now that we've grown up together, they are taking drugs with me" mas o produtor pediu para mudar porque com essa frase não seria um hit. Ou seja, os amigos foram de se drogar com ele para terem medo dele.

Mas ele diz que esse é o preço que todos pagamos, que destino é superestimado, afinal não tem como saber para onde vamos. Filosofou. É amigo, mas ainda assim temos que fazer escolhas apesar da incertezas.

I used to think that the day would never come
I'd see delight in the shade of the morning sun
My morning sun is the drug that brings me near
To the childhood I lost replaced by fear
I used to think that the day would never come
That my life would depend on the morning sun

E temos o refrão outra vez com as delícias da sombra do sol nascente. Essa droga que o traz mais perto da infância perdida para o medo. Ele nunca achou que chegaria o dia que a vida dele iria depender desse sol nascente para sobreviver. A busca pela anulação do medo.

I feel so extraordinary
Something's got a hold on me
I get this feeling I'm in motion
A sudden sense of liberty
The chances are we've gone too far
You took my time and you took my money
Now I fear you've left me standing
In a world that's so demanding

E ele continua se sentindo fora do normal, como se algo tomasse conta dele com aquele sentimento de liberdade. MAS as chances são que tenham (aqui ele usa o plural que pode ser ele e outra pessoa ou ele e as drogas) ido longe demais. E aí ele fala para esse alguém (ou alguma coisa): "Você levou meu tempo e meu dinheiro, e agora temo que você me deixou em um mundo que é muito exigente.".

Bem vindo ao mundo real.

I used to think that the day would never come
I'd see delight in the shade of the morning sun
My morning sun is the drug that brings me near
To the childhood I lost replaced by fear
I used to think that the day would never come
That my life would depend on the morning sun

Vício é difícil. Mesmo com a constatação que, apesar de se sentir extraordinário e livre, roubou, os amigos tem medo dele, ficou sem dinheiro, perdeu tempo da vida e ficou com medo que foi abandonado nesse mundo exigente, ele ainda vê o deleite da sombra e depende do morning sun. É quase uma caçada por um prazer de instantes.


Mesmo com o tema triste, essa música tem umas frases ótimas e uma batida que faz a gente querer dançar.

Acho video ótimo. É bem 1980 nas cores e conceito, adoro a coreografia e os tapas na cara na batida da música.




A propaganda para quem não viu. (mas esses millenials/geração Z gostam das roupas com a marca estampada)




George Michael gravou uma versão dessa música em 2011.

3 comentários:

  1. Adorei essa analise! Cheguei no blog justamente por procurar uma analise de True Faith e já estou gostando.

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  2. Acho interessante o que o Peter Hook disse, pois fui vítima de uma seita de controle mental, a tal da Testemunhas de Jeová, e cada aspecto da letra se enquadra no que eu e muitas pessoas viveram lá dentro. O que não deixava de ser uma droga. Jonathan.

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