31.8.19

Analisando a música: Cold Little Heart (Michael Kiwanuka)

As séries da HBO costumam ter ótimas músicas de abertura, tanto que nem pulo a abertura e escuto a música todas as vezes. True Blood tinha Bad Things do Jace Everett, Treme tinha Treme Song do John Boutté, The Sopranos tinha Woke Up This Morning da Alabama 3, True Detective tinha Far From Any Road da Handsome Family, The Wire tinha Way Down In The Hole (cada temporada era uma versão diferente) , e até o a música tema de Game of Thrones era ótima.

A série mais recente da HBO que tem uma música que só me faz querer que a abertura dure mais alguns minutos é Big Little Lies. (Toda a trilha sonora dessa série é ótima.)

Cold Little Heart combina tanto com a abertura, que são cenas das estradas lindas da Highway 1 na California, que dá vontade de entrar num carro e dirigir com essa música, mesmo que seja na Beira Mar de Fortaleza.

Eu nunca tinha escutado essa música até ver a primeira temporada da série. E nem sabia quem era Michael Kiwanuka, esse inglês de Londres de 32 anos. Não sei classificar a música dele, diria que é um indie folk, mas uma coisa é certa: Michael Kiwanuka tem soul de sobra. Ele lançou seu primeiro disco Home Again em 2012 e o segundo Love & Hate em 2016. O terceiro vai sair esse ano em outubro.

Cold Little Heart é do segundo disco e quando a HBO pediu autorização para usar a música Michael Kiwanuka achou que seria alguma música de fundo, mas não, foi para os 90 segundos da abertura.

Outra música dele que tocou em uma série esse ano foi a ótima Love & Hate que estava em When They See Us da Netflix. (essa música já tocou em várias séries - Dear White People e Atlanta)

Big Little Lies é sobre um grupo de 5 mulheres que moram em Monterrey, na California, e se juntam em torno de um incidente que abalou a comunidade. Tem Nicole Kidman, Reese Witherspoon, Laura Dern, Zoe Kravitz e Shailene Woodley. A primeira temporada é ótima. A segunda foi boa mas achei desnecessária. Pronto, falei, mas vi a abertura até o fim todas as vezes.

Mas vamos saber que coraçãozinho frio é esse.

Cold Little Heart é a primeira música do disco Love & Hate e tem 10 minutos de duração (9:58 para ser exata). A introdução da música dura quase 5 minutos com um instrumental lindo, que é guitarra e vozes, e só depois disso a gente escuta o primeiro oooooh que começa a abertura da série.

Did you ever want it?
Did you want it bad?
Oh, my
It tears me apart
Did you ever fight it?
All of the pain, so much power
Running through my veins
Bleeding, I'm bleeding
My cold little heart
Oh, I can't stand myself

O oooooh inicial parece um vento soprando, uma coisa meio Morro dos Ventos Uivantes. Aí entra a batida com guitarra e vem a voz cheia de sentimento do Michael Kiwanuka.

"Alguma vez você quis? Quis muito, muito mesmo?"
 Quem quis o que?? Mistério. É algo que o deixa despedaçado. 
Aí ele pergunta "Você resistiu (ou lutou)?". 

Acho que essa música é uma DR, um relacionamento que acabou, ou está acabando.

Temos dor, muita dor, e temos poder correndo nas veias (que pode ser raiva). Ele está sangrando (sofrendo), "Meu pequeno coração frio, eu não aguento mais."

And I know
In my heart, in this cold heart
I can live or I can die
I believe if I just try
You believe in you and I
In you and I

O refrão que vem acompanhado de uma guitarra maravilhosa que se você escutar com fones de ouvido vai estar sempre do lado esquerdo. E no refrão ele diz que sabe que nesse coraçãozinho frio ele pode viver ou morrer mas acredita que se tentar a outra pessoa vai acreditar nos dois juntos. "Em você e eu."

E a guitarra vem com força num solo que parece um choro.

Did you ever notice?
I've been ashamed
All my life
I've been playing games
We can try to hide it
It's all the same
I've been losing you
One day at a time
Bleeding, I'm bleeding
My cold little heart
Oh, I can't stand myself

"Você já notou? Eu estive envergonhado." Hum, fez besteira. 
Ele diz que por toda vida fez joguinhos. "Podemos tentar esconder, mas é tudo a mesma coisa." Sabemos que joguinhos nunca acabam bem.
E ele sabe que está perdendo a outra pessoa um dia de cada vez. Ou seja, essa relação está enfraquecendo. Ele continua sofrendo e não aguenta mais. 

Força, coraçãozinho frio.

And I know
In my heart, in this cold heart
I can live or I can die
I believe if I just try
You believe in you and I
In you and I

Mas segue acreditando que se ele tentar vai dar certo. Que "Eu e você" vai continuar.

Maybe this time I can be strong
But since I know who I am
I'm probably wrong
Maybe this time I can go far
But thinking about where I've been
Ain't helping me start

Aí a música entra num fade out e essa estrofe final é só voz e guitarra. 
Ele diz que talvez dessa vez pode ser forte, mas como sabe quem é pode estar errado. Ele acha que pode ir mais longe mas quando pensa onde esteve não o ajuda a começar. 

Está difícil para o pequeno coração frio.

Quando ele termina de cantar, os outros instrumentos voltam e o fim dessa música lembra um pouco Wish You Were Here, ou Shine On You Crazy Diamond do Pink Floyd.


O video da música tem apenas 6 minutos, só com a parte cantada, mas acaba logo depois da última estrofe sem o finalzinho da música. Para quem quiser escutar os 10 minutos (e vale a pena) coloquei na lista do Analisando a música no Spotify




A abertura de Big Little Lies:

18.8.19

Era uma vez em Hollywood

E chegamos ao nono filme do Quentin Tarantino. Ele diz que só vai fazer dez filmes então esse foi o penúltimo.



Era uma vez em Hollywood é um filme sobre cinema, atores, bastidores e indústria.

Leo DiCaprio faz um ator chamado Rick Dalton que era famoso na TV americana, tentou a transição para o cinema e no momento do filme está em decadência.

(E quem diria que anos depois os atores de cinema é que estariam indo para TV)

Rick está numa fase onde só faz vilões em séries de TV o que, segundo um agente (feito Al Pacino), significa que ele está sendo jogado para escanteio e dando lugar a novos atores para serem galãs. Traduzindo: Rick nunca mais irá conseguir um papel principal.

Brad Pitt faz Cliff, o dublê do Rick Dalton. Na verdade ele é o motorista/babá/segurança de Rick. Cliff é um cara divertido, tranquilão, mas ele também é misterioso porque a gente não sabe se o que dizem sobre ele é verdade ou não.

Boa parte do filme passa em um dia que Rick está trabalhando em um filme e Cliff foi consertar a antena de TV do Rick.

Rick mora na mesma rua que Sharon Tate e Roman Polanski. E também vemos um dia na vida de Sharon Tate. (Se você não sabem que foi a Sharon Tate e o que aconteceu com ela não vai aproveitar tanto esse filme, mesmo que as partes em que Margot Robbie aparece sejam poucas. A cena no cinema é uma linda homenagem).

E se tem Sharon Tate tem Charles Manson e sua "família" de malucos e assassinos.

Leo DiCaprio está maravilhoso nesse filme, estará no Oscar ano que vem. E Brad Pitt....que bruxaria é essa?? Shirtless super digno. E sim, ele está hilário nesse filme.

Todos os elementos Tarantino estão lá da trilha sonora ótima aos pés sujos.

Eu gostei desse filme, achei divertido, é longo, são 2 horas e 40 que passaram bem rápido, pelo menos não olhei no relógio nem uma vez. Poderia ter um pouco menos de Brad Pitt dirigindo pra lá e pra cá, mas em Los Angeles é só isso que fazem (e quem sou eu para reclamar de Brad Pitt em cena?)

A Tia Helô não iria gostar muito dessa Hollywood tomada pelos hippies, mas acho que ela gostaria do Rick Dalton. 621 "Ai, Jesus!" para o Brad Pitt que deve ter virado vampiro naquele filme que ele fez com o Tom Cruise.

4.8.19

+Séries

Séries novas que assisti.

Euphoria - Série da HBO sobre a juventude americana atual. É uma série sobre teens mas não sei se é para teens. É pesada, fala sobre drogas, depressão, raiva, sexo, sexualidade, violência e pode até ter algum momento fofo mas é raro. É uma série eficiente na abordagem dos temas, os personagens são bem construídos e a forma como é contada nos deixa muito curiosos com o que vai acontecer. É muito bem feita (e artística). São 8 episódios e o ultimo vai ao ar no próximo domingo.

The Boys - Uma série sobre super heróis bem diferente. Super heróis inseridos na sociedade, controlados por uma empresa, preocupados em gerar lucros e contratos com o governo americano. Heróis que não estão exatamente preocupados com o bem estar geral. No meio disso tem Hughie, que não é herói, que teve a namorada destruída pelo A-Train (que é o The Flash genérico) e se junta com outros que não acreditam que os heróis sejam bonzinhos. Tem violência e o episódio 4 é para os fortes. Vai ter segunda temporada. Na Amazon Prime.

Fleabag - Essa série é excelente. É uma comédia e um drama. É sobre a Fleabag (a personagem não tem nome), uma mulher de 30 e poucos anos que tem uma vida sexual ativa, é dona de um café e está de luto pela morte de sua amiga e sócia. Ela fala e olha para a câmera então somos seus cumplices em tudo que ela faz. Os outros personagens são tão bons quanto, Olivia Coleman faz a madrasta/madrinha da Fleabag e a relação passivo agressiva entre as duas é das melhores. Phoebe Waller Bridge merece todo reconhecimento que está tendo. É uma série curta, são duas temporadas de 6 episódios de meia hora cada. A segunda temporada é genial. Tem na Amazon Prime.

via GIPHY

The Good Fight - Essa não é nova, já está na terceira temporada mas comecei a ver agora. É um spin off de The Good Wife, série que assisti toda. Em The Good Fight a Diane Lockhart (que era sócia no escritório de advocacia em The Good Wife) vai se aposentar quando descobre que todo seu dinheiro da aposentadoria foi perdido num fundo falso de um esquema pirâmide. Ela tem que voltar a trabalhar e começa a procurar emprego em outros escritórios já que tinha pedido para sair do antigo. A série segue a linha de ótimos casos e assuntos atuais. The Good Fight é melhor que The Good Wife porque é mais eficiente, são menos episódios por temporada e mantiveram vários personagens interessantes (e os juizes peculiares). Tem na Amazon Prime.

Years and Years - Série britânica da BBC que aqui passa na HBO sobre um futuro distópico que não está tão longe assim da realidade. A história segue uma família por 15 anos através de tempos modernos e turbulentos de um pós brexit no Reino Unido.

Chernobyl - Série da HBO sobre o desastre na usina atômica em 1986. É uma série ótima. É bem feita com excelentes atuações. Cinco episódios, um deles parece filme de terror e o barulho do medidor de radiação vai ficar na sua cabeça por dias.

When They See Us (Olhos que condenam) - Conta a história de 5 rapazes negros que foram presos e condenados por um ataque a uma mulher no Central Park mas eles eram inocentes. A série mostra o trabalho porco da polícia, a insistência naqueles suspeitos sem provas, uma promotora sangue ruim e como esses meninos (e suas famílias) foram injustiçados até depois de sairem da cadeia. Outra série muito boa.