25.1.19

Glass

(Esse está parecendo um blog de cinema, mas é temporada pré-Oscar e tem muito filmes sendo lançados nos cinemas.)



Glass (Vidro) é a terceira parte de uma trilogia que começou com o excelente Unbreakable (de 2000).

(Unbreakable recebeu o péssimo título de Corpo Fechado em português e por isso continuarei a chamá-lo pelo nome original em inglês)

Em Unbreakable o David Dunn (Bruce Willis) sobrevive a um acidente de trem e é convencido pelo Elijah (Samuel L Jackson) que ele é super forte e super resistente. O filme é muito bem feito e nos leva a saga de David até ele se tornar uma espécie de herói e Elijah se tornar Mr. Glass (porque seus ossos se quebram facilmente). Mr Glass é o oposto do David e, por isso, seu vilão. Esse filme é uma homenagem aos quadrinhos e traz a idéia que as histórias de superheróis são sobre pessoas do mundo real com as habilidades exageradas.

O segundo filme é Split (Fragmentado 2017) que tem James McAvoy fazendo umas 20 personalidades. O Kevin sofre desse transtorno de multiplas personalidades e ele sequestra meninas que ele está preparando para uma personalidade mais forte fisicamente que que ainda vai aparecer, é a The Beast (Fera? Besta?). As personalidades são ótimas, a Patricia é a tia que manda em todo mundo, o Hedwig é um garotinho de 9 anos, tem o Dennis, o Barry, e outras. No fim desse filme quando a Beast aparece ele deixa uma das meninas livre (as outras ele matou e comeu, literalmente) e consegue fugir da polícia. Até o fim desse filme ninguém sabia que tinha relação com Unbreakable, mas aí nas letrinhas aparece Bruce Willis como David Dunn (17 anos depois de Unbreakable) e sabemos que ele vai atrás do Beast.

E chegamos em Glass.

David Dunn está na sua vida de dono de loja de material de segurança e vigilante, ajudado pelo filho e procurando o Beast. Quatro meninas estão desaparecidas.

Ele acha o Beast, libera as meninas, e enquanto os dois puxam cabelo na rua a polícia chega com uma  psiquiatra que leva os dois para um hospital psiquiatrico.

Adivinha quem também está nesse hospital? Sim, Mr. Glass. Dopadão.

David Dunn fica confinado num quarto com mangueiras que faz chover e o deixam em pânico. Kevin fica em outro quarto com uma luzes que fazem ele mudar de personalidade toda vez que acendem. E fica a pergunta: porque ele simplesmente não fecha os olhos, ou usa a fronha para tapar os olhos?

Anyway....a psiquiatra tenta convencê-los através de lógica que eles não tem nada de super poderes, nem são especiais.

Acontece que Mr. Glass é tudo menos bobo. Ele sempre tem um plano.

É mais um filme tenso, um thriller, do ação.

Gostei muito dos movimentos de camera, das cores usadas (sempre roxo para Mr. Glass, verde para David Dunn e amarelo para Kevin e suas personalidades. O rosa ficou para a psiquiatra), e os enquadramentos que sempre lembram quadrinhos. Tem muitas ligações com os outros filmes e tem cenas deletadas de Unbreakable muito bem usadas como flashbacks.

O que não gostei muito, mas não deixei de achar o filme bom, foram algumas soluções fáceis e o finalzinho. Não darei spoilers.

Shayamalan ainda tem um pouco de crédito comigo.

A Tia Helô iria adorar a personalidade Patricia do Kevin. 416 "Ai, Jesus!" para Mr. Glass criança no parque de diversões.

23.1.19

+ Filmes

Um muito bom, um médio e um ruim.

Spider-man Into The Spider-verse

Não sou público alvo do Homem Aranha, tanto que o chamo de Spiderteen, porque para mim ele é um adolescente. E como tal é o herói preferido de 90% dos nerds do sexo masculino (crianças, adolescentes, adultos ou até já mais perto da meia idade).

 De todos os heróis é o Spiderteen que veste o uniforme mais cedo e é ele que aprende logo no início que "grandes poderes trazem grandes responsabilidades".

Nessa animação o Spiderteen já está no batente há 10 anos e posso finalmente chamá-lo de Spiderman. Na mesma cidade mora Miles, um garoto que é mordido por uma aranha radioativa (aqui vou citar o Choque de Cultura: ninguém tinha um chinelo?) e começa a sentir os efeitos de se tornar o Spiderkid.

Acontece que um dia o King Pin (o vilão do Demolidor) quer mexer com as realidades alternativas, acaba matando o Spiderman dessa realidade mas nessa mixagem de realidades ele acaba importando o Spiderbucho (um Homem Aranha na casa dos 40 anos) de outra realidade.

SpiderBucho, SpiderKid se juntam a SpiderGirl (sim! temos uma menina, finalmente! Na realidade alternativa foi ela quem foi picada pela aranha) e vão atrás de acabar com essa palhaçada de ficar mexendo com as realidades. Vão na casa da Tia May e lá ainda tem o SpiderPorco, o SpiderNoir (veria um filme só dele) e a SpiderMangá.

O King Pin abusou da máquina de realidades alternativas.

Aqui é que a animação é maravilhosa, cada SpiderPessoa é representada por seu estilo de animação. A SpiderMangá vem no estilo japonês de quadrinhos, o SpiderNoir é em preto e branco, o SpiderPorco é um 2D do Pernalonga, e o SpiderKid um quadrinho tradicional (que quando bate sol na cara dele dá para ver aquela textura de tinta no papel).

E sim, é um ótimo filme de ação e de super heróis com uma mensagem bacana no fim. Canditado fortíssimo ao Oscar de melhor animação.

A Tia Helô iria gostar de ver Tia May cheia de bossa. 14 "Ai, Jesus!" para tanto balanço com teias.


Suspiria

Esse é um remake de um filme do mesmo nome de 1977.

É sobre uma escola de dança na Alemanha comandada por uma sociedade de bruxas que fazem ensaios de coreografias bizarras que parecem rituais.

Uma das alunas foi encontrar um psicólogo (um senhor idoso) e contou todo o babado mas ele desconfia que seja verdade.

Um dia chega na escola uma aluna americana. No primeiro dia de aula dela a dancarina principal do espetáculo vai mal e desiste dizendo que vai embora. A americana diz que sabe toda a coreô, ninguém acredita mas a professora deixa ela tentar. Ela arrasa, MAS enquanto ela dança a outra que queria ir embora é torturada através da dança e some. Foi uma das cenas mais impactantes e bizarras que vi esse ano, e eu vi Hereditário.

Com isso a americana ganha o papel e sua colega começa a desconfiar do sumiço da outra.

É um filme pesado, estranho, longo demais, mas as cenas coreografadas são óitmas e a Tilda Swinton está maravilhosa.

Tilda Swinton faz vários papéis nesse filme, inclusive o velho psicólogo. Queria dizer que foi uma baita esnobada do Oscar esse filme não ser indicado a melhor maquiagem.

A Tia Helô iria ficar horrorizada com essas mulheres. 924 "Ai, Jesus!" acompanhados de 521 "Que bruxaria é essa?".


Vice

Um filme sobre o Dick Cheney que foi o vice presidente do George W Bush. Ele é uma pessoa muito privada e no início do filme logo dizem que o que vamos ver é quase uma adivinhação do que aconteceu mesmo. Provavelmente era para ser uma sátira.

E aí é um vai e vem no tempo para contar a história de vida do Dick Cheney e sua esposa Lynne.

O diretor do filme, Adam McKay, acreditou no sucesso do seu outro filme The Big Short (que é bom, é quase um "especulação financeira for dummies") e quis ser mais diferentão ainda nesse filme.

Para mim não deu certo, achei o filme chatérrimo. Ele tinha uma ótima história nas mãos para contar, mas quis ser cineasta hipster e abusou das gracinhas. O filme tem falas de MacBeth do Shakespeare em um pedaço que o casal conversa na cama e com 30 minutos de filme ele rola os créditos como se "a vida política do Dick Cheney acaba aqui e ele foi feliz para sempre" só para logo depois receber a ligação do George Filho. Sem contar que tinha um narrador contando tudo. Não funcionou, não teve graça.

O Christian Bale engordou, colocaram uma maquiagem pesada nele e ele ficou parecido, desaparece no papel e entendo todas as indicações para ele. O Sam Rockwell de George W Bush é bom. Amy Adams também está bem e a personagem dela joga muitas cartas na mesa.

Dito isso achei mais do que um exagero indicarem esse filme a tantos prêmios. Não achei criativo e as vezes beirava o óbvio (usar cenas de pesca quando Dick Cheney está "jogando isca" para conseguir o que quer com George filho. Really?), tinha momentos que eu só queria que ele contasse a história direito.

Ou então não entendi nada.

Tia Helô sairia depois que visse os créditos rolando a primeira vez. 2 "Ai, Jesus!" para o primeiro de 4 infartos do Dick Cheney.


20.1.19

+Filmes

Pais e filhos.

A Beautiful Boy

Um filme sobre um garoto viciado em drogas (metanfetamina para ser exata) e como seu pai lida com a situação.

O pai vai desde buscar o filho nas ruas, fazer com que ele entre em rehabs, até deixar o garoto chegar no fundo do poço.

O Steve Carrell faz o pai e em muito momentos ele me lembrou Michael Scott (seu personagem em The Office), mas Thimothé Chalamet está excelente no papel do filho e eu gostaria de ter visto mais dele e menos do pai.

É um filme bom, mostra esse relacionamento difícil com pessoas viciadas e como isso afeta toda a família. É baseado em fatos reais.

A Tia Helô não iria gostar de ver menino Chalamet enganando e roubando. 316 "Ai, Jesus!" para cada vez que o pai cede as mentiras do filho.


Boy Erased

Aqui os pais acham que a cura gay funciona. O pai é um pastor e a mãe acredita que a cura gay é possível, mas não examinam seus preconceitos.

Jarred vai para o lugar (um centro?) onde ele passa o dia numa espécie de regime quase militar misturado com técnicas bizarras para convencê-lo que ele pode deixar de ser gay. Chega a dar nos nervos de quem assiste e dá vontade de liberar todo mundo daquele inferno.

Em um dado momento a mãe (Nicole Kidman, ótima) se questiona se aquilo está certo, o que é um alívio.

A minha surpresa foi ver o Flea do Red Hot Chili Peppers fazendo o papel de um ex-viciado que passa a ser o sargentão do centro e ensina os rapazes a andar  e apertar mãos "como homens".

A Tia Helô diria alguns "Ai, Jesus!" fechando os olhos para o método da cura gay.


Wildlife

Nesse filme os pais são jovens (Jake Gyllenhaal e Carey Mullugan) e estão numa espécie de crise de quem casou muito jovem e os interesses já não são os mesmos além do filho.

A história é toda contada do ponto de vista do garoto, um adolescente de 14 anos, e as vezes o acontecimento é fora de tela e só vemos a sua reação.

Essa família mora numa cidade bem pequena no norte dos EUA que antes do inverno tem um incêndio florestal nos arredores. Enquanto o pai decide trabalhar apagando fogo na floresta a mãe tem que resolver como vão sobreviver durante esse tempo. O menino é super tranquilo, deve ser porque os pais são maluquinhos. Equilíbrio né?

É um filme muito bom, mas é um pouco parado. A vida devia ser assim mesmo numa cidadezinha americana nos anos 1960.

A Tia Helô iria gostar do menino Joe. 12 "Ai, Jesus!" para essa vida que de selvagem não tem nada.


Shoplifters

Filme japonês sobre uma família de trambiqueiros. Eu só sabia que esse filme se passava no Japão porque as pessoas dentro de casa faziam tudo agachadas ou sentadas no chão, os cartazes e placas nas ruas eram em ideogramas e a estampa do banco do ônibus era de desenhos infantis. Fora isso poderia ser uma família em qualquer lugar do Brasil ou outro país.

O filme começa com pai e filho roubando coisas no supermercado. Pequenos roubos. A caminho de casa eles veem uma garotinha do lado de fora de casa (num dia muito frio) e a levam para casa para ela não morrer de frio.

Em casa tem a avó, a mãe e uma outra mulher. São cinco pessoas mais a garotinha. Quando vão devolver a menina, o pai e a mãe, escutam gritos e briga e decidem ficar com a menina.

A garotinha então entra no esquema da família. Acontece que nem tudo é o que parece e família as vezes é aquela que escolhemos.

Esse filme é muito bom, muito bom mesmo.

A Tia Helô iria ficar impressionada com os truques da vó japonesa. 415"Ai Jesus!" cada vez que eles comiam ramen.


Minding the Gap

Documentário feito ao longo de seis anos que conta a história de 3 rapazes numa cidade pequena dos EUA. Eles são skatistas e a cidade passa por um período difícil de desemprego.

Um dos rapazes é mais velho e no início sua namorada está gravida. O outro rapaz, negro, mais novo, saiu de casa porque tinha um relacionamento dificil com seu pai (que morre logo depois). E o terceiro rapaz é o diretor do filme, um asiático, que teve um padrastro abusivo.

O filme acompanha as mudanças na vida de cada um deles.

As cenas de skate são sensacionais. Acho que a camera estava na mão de outro skatista porque a fluidez do movimento é impressionante.

A Tia Helô iria ficar passada com algumas mães do filme. 517 "Ai, Jesus" menino larga esse skate que você vai cair!!!


6.1.19

+ Filmes

Vamos começar 2019 com três filmes ótimos.

Green Book

Praticamente um Conduzindo Miss Daisy com um itálo-americano meio mafioso na direção e um pianista afro-americano doutor em música fino e chique no banco de trás.

Don Shirley (o oscarizado Mahershala Ali) é o pianista que vai tocar num tour de dois meses pelo sul dos Estados Unidos na época da segregação racial. Para transitar com mais tranquilidade por certos lugares ele contrata Tony (o excelente Viggo Mortensen) que está de férias forçadas por causa da reforma na boate que ele trabalha.

O tal Green Book é uma espécie de guia de turismo para os negros americanos circularem nas estradas com segurança. É nele que tem os hotéis onde Don Shirley pode se hospedar.

Os dois homens são muito diferentes mas como todo bom road movie as diferenças vão se alinhando e um aprende com o outro.

É o feel good movie da temporada. E é baseado em uma história real.

A Tia Helô iria gostar do Don Shirley, rapaz educado. Já o Tony... 217 "Ai, Jesus!" para tanta comida que esse homem enfiava na boca.


The Favourite (A Favorita)

O diretor grego Yorgos Lanthimos faz uns filmes muito doidos. O meu preferido é O Lagosta e também gostei muito do Killing of a Sacred Deer.

Esse não seria diferente. No reino da Rainha Anne da Inglaterra a situação está conturbada. O país está em guerra com a França e no palácio os membros do parlamento querem uma posição da rainha. Acontece que ela está passando por maus momentos de saúde (problemas na perna, intolerância a lactose) e quem manda na porra toda é a Lady Sarah.

Lady Sarah, a Duquesa de Malborough, é amiga de longa data da Rainha e ela toma conta dos interesses do reino (e dela mesma). A Rainha faz tudo que ela manda.

Um dia chega Abigail no palácio. Ela foi vendida pelo pai para pagar uma dívida e depois de passar por maus momentos chega no palácio pedindo emprego. Lady Sarah a coloca como empregada mas depois ela recebe um upgrade para acompanhante. Acontece que a ambição da Abigail é sem limites.

Abigail e Lady Sarah passam a disputar a atenção (e outras coisas da Rainha Anne). É veneno que não acaba mais (literalmente em alguns momentos).

Sim, é baseado em fatos reais e nas cartas escritas pelas mulheres. Rainha Anne e Lady Sarah se correspondiam um bocado.

Um filme que abusa da iluminação natural e as vezes parece que foi filmado numa GoPro para o canal de esportes Off. Tem uns efeitos fisheye interessantes (mas também tem uns cortes brutos). A trilha sonora é usada quase como personagem e as vezes incomoda intencionalmente (como sons repetidos a exaustão). Coisas de Yorgos que deixam a história mais interessante.

Tem humor e tem drama. As três atrizes estão sensacionais, e Olivia Coleman merece o destaque que tem recebido. Gostei de ver Nicholas Hoult mostrando que é bom e deveria estar em mais filmes.

Depois de ver esse filme fui pesquisar sobre a Rainha Anne para saber quem era ela na fila do palácio. O reinado dela teve guerra com a França mas também teve a união com a Escócia, teve algumas construções famosas de Londres como a St. Paul's Cathedral e o Newton estava bolando suas teorias.

A Tia Helô iria achar tudo muito bizarro. 418 "Ai, Jesus!" para os 17 coelhos da Rainha Anne.


Cold War (Guerra Fria)

Filme do polonês Pawel Pawlilowski que conta história de um casal de artistas durante os anos da guerra fria na Polônia.

Wiktor está montando um show que vai mostrar a cultura folclórica polonesa. Zula é candidata a uma vaga de cantora e é contratada. Os dois se apaixonam e combinam de fugir durante uma apresentação na Berlim pré-muro.

Zula não aparece e Wiktor vai para fora da cortina de ferro sem ela. Os anos passam e eles se encontram na antiga Iugoslávia. Depois ela se casa e vai morar em Paris onde os dois tem um caso. Mas ela não é feliz e decide voltar para a Polônia. Acontece que se Wiktor voltar para a Polônia ele é considerado traidor.

Esse filme tem uma cena espetacular que Zula dança Rock Around the Clock.

É um filme que parece que foi feito mesmo na década de 1950. É preto e branco e o frame é quadrado. E tem músicas em polonês.

A Guerra Fria é o momento histórico em que estão e também representa algo que os separa constantemente (fisicamente e emocionalmente).

Gostei desse filme mesmo tendo revirado os olhos algumas vezes porque as vezes as pessoas preferem dificultar uma situação com solução mais simples.

A Tia Helô iria gostar desse filme mesmo sem entender uma palavra das músicas polonesas. 179 "Ai, Jesus!" para Romeu e Julieta da Polônia.