21.1.17

Book Report: 2 autobiografias

Comecei o ano dedicada as autobiografias. Li Born To Run, a autobiografia do Bruce Springsteen e Rita Lee: uma autobiografia.



Dois músicos contemporâneos (Rita Lee é só 2 anos mais velha que Bruce Springsteen) que decidiram contar suas histórias.

Não costumo ler biografias de músicos e artistas porque a gente sempre tem uma imagem idealizada, especialmente quando é fã, e as vezes saber verdades derruba a ilusão. Ou não.

A única outra biografia de músico que li foi Heavier Than Heaven do Charles Cross sobre o Kurt Kobain, que por sinal é muito boa. Li também um livro sobre o David Bowie, mas era mais sobre suas músicas e discos do que uma biografia mesmo.

Mas vamos a Bruce e Rita.

Tanto Bruce quanto Rita escreveram seus livros. As vezes os artistas usam ghost writers para quem contam suas histórias e os fantasmas escrevem. Não foi o caso aqui.

Bruce começou a escrever sua autobiografia em seu caderninho depois de sua apresentação no Superbowl de 2009 e demorou 7 anos para ficar pronta.

A Rita Lee até coloca um fantasma desenhado no meio do livro que corrige alguma coisa que ela contou sem exatidão. (Entendi que esse fantasma é um fã/amigo que leu o que ela escreveu e apontou algumas discrepâncias que ela ou se confundiu ou esqueceu de mencionar)

Bruce Springsteen escreve tão lindamente seu livro que enquanto lia conseguia escutar a voz dele contando sua história.

O livro da Rita Lee não segue exatamente uma ordem, mas tem uma certa cronologia. Não tem capítulos, só textos em poucos ou muitos parágrafos que levam títulos. As vezes parece que estamos escutando as histórias da tia engraçada numa reunião de famíla.

Bruce é um cara organizado, a história dele é contada em ordem cronológica e em capítulos. No fim a cronologia fica um pouco misturada mas não atrapalha em nada. Não é a toa que é chamado de The Boss, é um controlador assumido.

Rita Lee é filha de americano (escocês) com italiana. Bruce é filho de irlandês com italiana.

Bruce era de uma família pobre, teve que morar com os avós, e tem 2 irmãs. Rita vem de uma família classe média, seu pai era dentista, e também tem 2 irmãs.

Bruce Springsteen era bom menino, quase coroinha, do tipo que só foi beber depois dos 20 anos. A Rita Lee...bem, a Rita Lee era (e ainda é) da pá virada, inclusive com um pézinho na delinquência.

Tanto Rita como Bruce foram influenciados por Elvis e Beatles. A diferença entre os dois é que Rita não fala muito de como essa influências aparecem na sua música (só que ela era rock n' roll), o Bruce Springsteen analisa muito bem onde essas influências e outras foram parar na sua carreira.

Aliás, no quesito músicas e carreira, o Bruce Springsteen é muito detalhista. Ele conta como cada album aconteceu, como algumas músicas foram compostas e ainda analisa o album com a fase da vida que ele estava passando.

Rita fala de algumas músicas, como foram compostas, quem as compôs, como foram parar não mãos dela e como apareceram nos discos. Ela fala em poucas palavras como os albuns surgiram, conta em mais detalhe sua carreira solo e usa muitas frases de suas músicas para contar sua história.

Bruce conta sua história em mais de 500 páginas, e Rita Lee em 270. O Born To Run tem umas míseras 6 ou 7 páginas de fotos no fim, o da Rita Lee tem muitas fotos, e boas, que ilustram bem a narrativa.

Rita e Bruce sempre foram músicos. Rita Lee ainda deu aula de inglês e trabalhou em escritório, mas o Bruce Springsteen só pegou no pesado pintando paredes durante um verão na adolescência para ter dinheiro para comprar uma guitarra. Ambos começaram em bandas covers, mas Bruce Springsteen tocou por mais tempo em bares e até hoje é só pedir uma música para ele no show que ele toca.

É interessante ver como o mercado da música era diferente nos dois países. Bruce tocou em bares e pequenos eventos com sua banda até ser descoberto e chamado para gravar um disco. Rita Lee (e os Mutantes) tocavam em festivais nacionais de música.

Tanto Bruce quanto Rita falam das suas amizades, das pessoas que passaram por suas vidas (pessoal e musical), e ambos relatam momentos de tocar com músicos dos quais tinham sido fãs. A Rita Lee abusa mais do name dropping, o mundo da MPB não é tão grande assim.

Bruce Springsteen é poético na sua narração. Ele sabe contar uma história. A leitura flui e em muitos momentos parei de ler para escutar as músicas. Ele é muito sincero numa autoanálise que expõe no livro sobre sua depressão.

A Rita Lee usa e abusa do humor  e de um certo sarcasmo que em muitas partes funciona, mas em outras força uma barra. Também parei o livro em muitas partes para escutar as músicas dela. Ela fala bastante de seu uso e vício em drogas, remedinhos e álcool.

Rita Lee se aposentou, concluiu que chegou a hora de deixar os holofotes de lado, inclusive em alguns momentos do livro ela disse que queria parar apesar dela também dizer várias vezes que no palco todas as mazelas desaparecem. Vi Rita Lee ao vivo acho que umas três vezes. Uma das vezes foi quando ela abriu para os Rolling Stones no Maracanã em 1995 e ela fala desse show no livro.

Nunca vi Bruce Springsteen ao vivo, mas ele continua firme e forte fazendo shows e adora o palco. The Boss teve a turnê mais lucrativa de 2016, então quem sabe eu ainda vou num show dele.


(Já fiz um Analisando a música de Dancing In The Dark do Bruce Springsteen aqui no blog)

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