Esse livro foi indicado pela Marcie no grupo de leitura do FB. Confesso que nunca tinha ouvido falar do escritor turco Orhan Pamuk mas até um Prêmio Nobel de literatura ele já tem. Como gosto de ler autores que não conheço na última ida à livraria vi que dele tinha Neve, Istambul - Memória e Cidade, e O Museu da Inocência. Peguei O Museu da Inocência, pela indicação da Marcie e porque achei a capa mais legal (sim, sou dessas).
Um livro é muito bem escrito quando: 1) é traduzido por outra língua que não a original e a leitura flui lindamente (nesse caso do turco para o inglês e depois para o português), palmas também para os tradutores; e 2) a história central me irritou várias vezes, mas as descrições secundárias e observações mantiveram meu interesse. Odiei o protagonista e sua obsessão amorosa irritante até os capítulos finais, mesmo entendendo suas atitudes levadas pela paixão/obsessão (no caso dele é uma linha muito tênue), mas, no fim, numa espécie de redenção, tive um pouco de pena dela e compaixão por dele.
É um livro de 500 páginas e em nenhum momento tedioso (as vezes incômodo, mas isso é devido o protagonista stalker). Orhan Pamuk sabe contar uma história. O livro é extremamente melancólico, nostálgico, é sobre amor, sofrimento por amor, paixão, obsessão (muita) e, especialmente, sobre memória. As coisas que lembramos, como lembramos e a sensação que o tempo para em alguns momentos.
"Esse domínio ambíguo no limiar entre o sentido e o imaginado."Kemal, o protagonista, tem a mania de pegar objetos que lembram sua amada, Füsun, desde um brinco até prendedores de cabelo, bibelôs da casa dela, várias gimbas de cigarros que ela fumou e assim ele vai montando uma coleção que mais tarde vem a ser o tal Museu da Inocência. A narrativa é como um passeio guiado por esse museu e seus objetos.
"Era o momento mais feliz da minha vida, mas eu não sabia. Se soubesse, se tivesse dado o devido valor a esta dádiva, tudo teria acontecido de outra maneira? Sim, se eu tivesse reconhecido aquele momento de felicidade perfeita, teria agarrado com força e nunca deixaria que me escapasse. Levou alguns segundos, talvez, para aquele estado luminoso tomar conta de mim, mergulhando-me na paz mais profunda, mas ele me pareceu ter durado horas, até mesmo anos. Naquele momento, na tarde de segunda-feira, 26 de maio de 1975, em torno de quinze para as três, assim como nos sentíamos além do pecado e da culpa, o mundo todo parecia ter sido liberado da gravidade e do tempo."Ao ler a história de Kemal e Füsun (que as vezes chega perto do bizarro) passeamos por uma Istambul que muda aos olhos do protagonista e conhecemos a cultura turca da época (se passa principalmente no meio dos anos 1970), os hábitos da sociedade, de como os jovens ricos queriam ser "modernos como os europeus", a censura do cinema, as bebidas típicas, as comidas (ai, baklavas!), a fofoca turca, e muitas outras coisas interessantes. Dá vontade de ir a cidade para ver os vários lugares que ele descreve no livro.
Apesar de não gostar muito do Kemal, gostei de algumas personagens femininas do livro, até da Füsun em alguns momentos. São mulheres fortes, que mesmo numa sociedade de rigores machistas onde são tratadas como objetos conseguem driblar conceitos e se impor.
O livro também é uma forma de entender a cabeça de um colecionador e como vários museus menores são formados pelo mundo. O Orhan Pamuk construiu mesmo o Museu da Inocência em Istambul com objetos da época contada no livro e mais recentes. É um museu da vida diária dos habitantes da cidade. No livro, inclusive, tem um ingresso para ser carimbado na entrada do museu. Vou guardar o meu, quem sabe um dia volto a Istambul.
Olá!
ResponderExcluirGostei muito da sua resenha! =)
Onde conseguiu comprar o livro?
Não acho em nenhuma loja online!
Oi Isa!
ResponderExcluirObrigada. :)
Comprei esse livro na Livraria Cultura.
Espero que você consiga achar, é uma ótima leitura.