5.4.13

Book Report: Diários de Bicicleta - David Byrne


O David Byrne é o vocalista do Talking Heads e, além de cantor, compositor e artista plástico, também um entusiasta da bicicleta. Ele pedala há anos por New York, desde quando a cidade não era bike friendly, e carrega sua bicicleta dobrável para outras cidades do mundo.

Nesse livro ele faz muitas observações interessantes sobre as cidades e as relações que as pessoas tem com o lugar onde vivem e entre si. Um ponto interessante que ele levantou foi sobre a cidade que é amigável a bicicleta geralmente tem um transporte público muito bom. Não vamos esquecer que a bicicleta é um transporte individual e o transporte coletivo deve sempre ter prioridade.

O livro começa com um apanhado sobre as cidades americanas, como são construídas para os carros e como isso define a convivência das pessoas. Depois começa uma volta ao mundo com os passeios de David por Berlim, Istambul, Buenos Aires, Manila, Londres, Sydney, San Francisco e, claro, New York. Além dessas cidades que mereceram capítulos ele também fala de Copenhagen e como o arquiteto urbanista Jan Gehl propôs mudanças na cidade que melhoraram a qualidade de vida e fez toda uma população adotar a bicicleta. (ele não fala de Amsterdam, mas o trabalho feito lá para incluir ciclovias na cidade foi incrível)

Em Istambul e Buenos Aires ele toca no ponto do carro como status, e são duas cidades com trânsito péssimo, assim com várias aqui no Brasil. Aliás, do Brasil ele menciona Salvador algumas vezes mas apenas para referências culturais e Curitiba para falar da eficiência do sistema de transporte público instalado pelo Jaime Lerner. Elogios na América do Sul só para Bogotá.

O capítulo que mais gostei foi Berlim. Afinal é uma cidade que era duas e voltou a ser uma, cheia de história recente desde a Guerra até os temidos agentes da Stasi. David Byrne não deixou a loucura de Berlim passar em branco, e é uma cidade super amiga das bicicletas.

Em Londres ele filosofa como a cidade aceita bem a diversidade, em Buenos Aires fala da vida noturna dos argentinos ("cidade dos vampiros"). Em Sydney ele se apavora com os morcegos gigantes e aranhas peçonhentas, e em Manila ele se diverte nos inúmeros karaokês.

Comprei esse livro pela capa bonitinha e pelo assunto, afinal também sou entusiasta do transporte público e bicicletas. Acontece que, como o livro é escrito em forma de observações em um diário, em muitas partes o David Byrne conta suas idas a festas, restaurantes, shows, filosofa sobre assuntos diversos e tal, as vezes é interessante e outras nem tanto.

No fim ele faz uma reflexão sobre a renovação de espaços nas cidades e como levar as pessoas para rua/calçada (caminhar, andar de bicicleta ou usar o transporte público) é importante até para diminuir a violência. Quando as pessoas estão na rua, em suas vizinhanças, se protegem e ocupam um espaço. Quando estão dentro de seus carros, trancadas, deixam as ruas abandonadas, "Estar dentro de um carro pode parecer mais seguro, mas quando todo mundo dirige, isso torna a cidade menos segura".

Isso me fez pensar Em Fortaleza, a cidade que vivo, onde ninguém anda nas ruas, e essa tensão que vivemos nos últimos tempos, sempre com medo. Uma cidade que fica cada vez mais quente porque derrubam arvores para fazer mais espaço para estacionar carros, fazendo a experiência de andar desagradável. Contudo, mantenho uma certa esperança que o problema terá solução.


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