15.7.13

Analisando a música: You Better You Bet (The Who)

The Newsroom voltou para segunda temporada essa semana e, no meio de todos aqueles diálogos rápidos (e as vezes confusos) sobre política e economia, o Will e a Mackenzie tiveram um mini debate sobre essa música. No fim ela diz: "Acho que nenhum de nós entende o significado dessa música."

É um desafio? Aceito!

The Who é Rock Clássico.

(Toda vez que uso essa expressão imagino os tiozinhos dos anos 1960 se revirando nos túmulos porque o gênero musical que eles abominavam, que dava dor de cabeça, que tirava suas filhas de casa com formigas nas calças, virou algo clássico e estudado em universidades. Então, get over it, um dia teremos Funk Carioca Clássico.)

A banda britânica foi formada em 1964 por  Roger Daltrey, Pete Townshend, John Entwistle e Keith Moon, e o primeiro sucesso veio com My Generation. O The Who era uma banda alternativa, em relação aos Rolling Stones e aos Beatles, e faziam sucesso no Reino Unido. Em 1969 lançaram Tommy (a ópera rock que depois virou filme em 1975) e foram para o mundo.

The Who era uma banda bem performática, Pete Townshend gostava de quebrar guitarras no palco e Roger Daltrey gosta de uma atuação (e tem uma voz ótima). O Pete Townshend tem muita história para contar e escreveu um autobiografia. O Keith Moon morreu em 1978 e no início dos anos 1980 a banda se desfez. De lá para cá teve algumas reuniões, o Entwistle morreu em 2002, e ocasionalmente os dois restantes fazem shows beneficentes e mini tours.

As gerações mais novas conhecem os vovôs do The Who pela versão de Behind Blue Eyes feita pelo Limp Bizkit; as aberturas dos: CSI (Who Are You), CSI:NY (Baba O'Riley) e CSI: Miami (Won't Get Fooled Again), o Roger Daltrey até participou de um episódio de CSI. E ainda tem a versão Glee de Pinball Wizard. O Pearl Jam, as vezes, faz um cover deles nos shows.

You Better You Bet, música e letra do Pete Townshend, é do album Face Dances de 1981, um dos últimos (já sem o Keith Moon), ficou no topo das paradas do ano e foi o último hit da banda. É uma música sobre....bem, eu diria uma DR, talvez um caso de amor pouco funcional ou muito prático dependendo do ponto de vista. Tem um pouco de tudo.

Vamos analisar.

I call you on the telephone
My voice too rough with cigarettes
I sometimes feel I should just go home
But I'm dealing with a memory that never forgets
I love to hear you say my name
Especially when you say yes
I got your body right now on my mind
But I drunk myself blind to the sound of old T-Rex
To the sound of old T-Rex, oh, and Who's Next

A música já começa com um booty call meio bebum com a voz áspera de tanto fumar cigarros (ah, as musicas dos anos 1970/80 onde as pessoas ainda fumavam). Ele até quer ir para casa (então a ligação provavelmente é do meio da rua, de um orelhão) mas está "lidando com uma memória que nunca esquece", ele quer saciar essa vontade. "Adoro quando você diz meu nome, e especialmente quando diz sim!! Diz sim, vai!" Está com o corpo dela na cabeça, agora, now!  Mas ele bebeu até cair escutando T.Rex (uma banda de glam rock dos anos 1970) e Who's Next (adoro essa auto referência ao album de 1971, claro que o cara ia escutar o melhor disco da banda). E aí, como faz?

When I say I love you, you say you better
You better, you better, you bet
When I say I need you, you say you better
You better, you better, you bet
You better bet your life
Or love will cut you, cut you like a knife

O refrão grudento. "Quando eu digo que te amo, você diz 'acho bom'". É melhor, é melhor, pode apostar. Quando ele diz que precisa dela, ela diz "você deveria mesmo". É melhor apostar. E ele pode apostar a vida que o amor vai cortar como uma faca (afiada). É um conselho/ameaça.

I want those feeble minded axes overthrown
I'm not into you passport picture, I just like your nose
You welcome me with open arms and open legs
I know only fools have needs
But this one never begs

"Eu quero essas rejeições idiotas derrubadas" (uma das definições de ax/axe é rejeição de um amante/amigo, também é gíria para guitarra e o Pete Towshend gostava de quebrar guitarras), ou seja, "Eu vou e pronto.". A foto do passaporte deve ter alguma explicação, mas que ele só gosta do nariz é mais significativo (Pete Townshend sobre seu nariz: "I thought, well if I've got a big nose, it's a groove ans it's the greatest thing that can happen because, I don't know, it's like a lighthouse or something".). Aí ele faz a festa, ela o recebe de braços e pernas abertas (uiuiui). Só os tolos tem necessidades, mas esse bobão nunca implora. (também, nem precisa, ela já está lá de pernas braços abertos!)

I don't really mind how much you love me
Ooooo a little is alright
When you say come over and spend the night
Tonight, tonight

Ah, a quantificação do amor. Ele diz que não se importa o quanto ela o ama, um pouco já está bom. Ele quer saber é se ela vai convidá-lo para uma visitinha ainda hoje a noite, é isso que interessa.

When I say I love you, you say you better
You better, you better, you bet
When I say I need you, you say you better
You better, you better, you bet
You better bet your life
Or love will cut you, cut you like a knife

O refrão chiclete.

I lay on the bed with you
We could make some book of records
Your dog keeps licking my nose
And chewing up all those letters
Saying you better
You better bet your life
You better love me, all the time now
You better shove me back into line now

Parece que ele conseguiu se convidado, e na cama acha que poderiam entrar para algum livro de recordes (ou fazer um livro dos discos, mas prefiro achar que ele quer bater algum tipo de recorde sexual). Olha o nariz aí outra vez! O cachorro está lambendo. E depois mastigando as cartas que dizem "Você pode apostar sua vida, é melhor você me amar, o tempo todo, me coloca de volta na fila".
Pausa. Vamos ver se entendi. Acho que são amigos com benefícios, que se gostam (muito) mas não querem nada sério (ainda), só um sexo casual. Ela deve ter uma fila de pretendentes e ele quer ser o primeiro. Por isso acho que o refrão é uma (pseudo) brincadeira, e quando ele diz "te amo" ela responde "acho bom!".

I showed up late one night
With a neon light for a visa
But knowing I'm so eager to fight
Can't make letting me in any easier
I know I've been wearing crazy clothes
And I look pretty crappy sometimes
But my body feels so good
And I still sing a razor line every time

Falou em passaporte e agora em visa. E o que ele usa como um aval para entrar na casa dela? Uma luz neon. WTF? Roubou do bar? Ainda bem que ele reconhece que não merece entrar quando esta com vontade de brigar, que usa roupas esquisitas e parece esculhambado, mas se sente bem e canta afinado/afiado (ou saber dar uma cantada afiada) toda vez.

And when it comes to all night living
I know what I'm giving
I've got it all down to a tee
And it's free

E ainda completa: quando a coisa é virar a noite, ele sabe o que está oferecendo, tem tudo nos mínimos detalhes (oi, tudo bem?) e é de graça. Amigo com benefícios é para essas coisas, né?

When I say I love you, you say you better
You better, you better, you bet
When I say I need you, you say (scream) you better
You better, you better, you bet
You better bet your life
Or love will cut you, cut you like a knife

O refrão que não sai da cabeça. Como eu disse na outra estrofe, acho que é uma brincadeira (que no fundo é de verdade) entre os dois. Amigos com benefícios que querem mais. No fim ele diz "você pode apostar sua vida ou o amor vai te cortar como uma faca.", ou seja, é melhor ele ama-lá ou então ela vai lá e corta (espero que o coração simbolicamente). O amor/amizade é lindo.

E vamos ficar com esse refrão grudado....you better, you better, you bet!



Algumas pessoas do forum acham que essa música lembra Let My Love Open The Door, que o Pete Towshend lançou um ano antes em sua carreira solo.

Um comentário:

  1. Adoro essa música, pra mim uma das melhores do The Who. Eu tinha uns 20 anos quando foi lançada, era uma época em que as amizades coloridas estavam em alta, transar sem nenhum compromisso (e sem camisinha) era visto como uma coisa normal, eu estava na faculdade e vivi essa fase. A música é um retrato fiel desses tempos. A chegada do HIV alguns anos depois, entretanto, trouxe o medo da morte e colocou um ponto final nessa era. As pessoas voltaram a ter parceiros(as) fixos como uma forma de se proteger da doença. Quarenta anos depois isso pode parecer estranho, mas em 1986 a Aids não tinha tratamento e era uma sentença de morte.

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