5.12.10

Book report: Jane Eyre - Charlotte Brontë

Li um artigo no The Guardian (via @lunaomi) que dizia que as irmãs Brontë dividiam a humanidade em Rock Stars ou Librarians. Traduzindo: ou você gosta de Wuthering Heights ou de Jane Eyre.

Sobre Wuthering Heights eu já falei aqui. Já disse que acho o Heathcliff um rockstar, e adoro o estilo narrativo estou-fofocando do livro.

Então eu fui ler Jane Eyre e saber onde me encaixo de verdade.

(com muitos spoilers)

Jane Eyre foi escrito como se fosse uma autobiografia editada por Currer Bell (pseudônimo de Charlotte Brontë). O livro vai da infância de Jane até seus vinte anos, com um capítulo conclusivo no final.

Jane não teve uma vida fácil. Ela era orfã e foi criada por uma tia, esposa de seu tio, que não gostava nem um pouco da pequena Jane, e, assim que pode, mandou a Jane para uma escola/internato. A Jane rebelde (com causa) se transformou em ótima aluna e depois professora de Lowood.

Aos 18 anos, sentindo que precisava conviver com outras pessoas, ela colocou um anuncio no jornal e foi logo chamada para ser tutora em Thornfield Hall, casa da família Rochester.

Jane era tutora de Adele, uma garotinha francesa que era protegida do Mr. Rochester, o qual a Jane demora um tempo para conhecer já que ele passa muito tempo fora. Mas quando ela conhece, ui, ui, ui. Love at first sight.

Bem, quase a primeira vista. Jane esbarra no Mr. Rochester no meio do caminho e o ajuda depois que ele cai do cavalo. Sem saber que ele é O Mr. Rochester (homem não muito bonito, mas com porte atlético, ou seja macho-que-é-macho).

Claro que ele fica intrigado com aquela pequena criatura (porque a Jane era baixinha e não muito bonita como é dito vááárias vezes no livro), passam a ter conversas e ele se apaixona por ela. Ele, inclusive, conta de suas aventuras com uma dama francesa, mãe de Adele. Como ele é senhor da propriedade, a Jane desconfia, mas não tem certeza dos sentimentos dele.

Um dia Jane é chamada pela tia, que está morrendo, só para saber que tem um tio rico que mora na Madeira e que queria adotá-la, mas a tal tia disse que a Jane tinha morrido. Ainda assim a Jane fica com essa tia até ela morrer e depois com suas primas até essas resolverem suas vidas.

Quando Jane retorna a Thornfield Hall, ela acha que o Mr. Rochester está de casamento marcado, porém descobre que ele na verdade estava morrendo se saudades e que se casar com ela.

Como eu disse, a vida da Jane não era nada fácil, então, o Mr. Rochester tinha um segredo. Segredo esse que vivia no sotão da casa e Jane só descobriu na manhã de seu casamento. Mr. Rochester tinha uma esposa. Sim. Acontece que essa esposa era louca, vivia presa num quarto aos cuidados de uma enfermeira, e quando conseguia fugir gostava de tacar fogo em algumas coisas (inclusive no Mr. Rochester).

Jane fica passada. Mr. Rochester tenta amenizar a situação dizendo que não se sentia casado com a tal Bertha, que desde a lua de mel ela tinha se apresentado maluca, que há sei-lá-quantos anos a mantinha naquele sotão e que estava apaixonado mesmo e queria se casar com ela. Jane diz que não queria ser amante, e decide fugir na calada da noite.

Jane passa por maus bocados, tem que dormir na floresta, passa frio e fome. Ela decide pedir comida numa casa, a princípio é recusada, mas depois é acolhida por um homem e suas irmãs. Jane se recupera, passa aconviver com essas pessoas, o homem, St. John, lhe oferece um emprego de professora e ainda um lugar para morar.

St. John então descobre quem é Jane Eyre (ela tinha dado um nome falso: Jane Elliot - super criativo), e nós ficamos sabendo que o tio rico da Madeira, soube que ela não tinha morrido e deixou sua fortuna para ela. Acontece que o tio rico da Madeira, também era tio do St. John. Tamanha coincidência a Jane ser prima da família que cuidou dela. Jane, boa como só ela, decide dividir a herança com os primos e passa a ter uma vida confortável e independente.

Calma que ainda tem sofrimento.

St. John, homem bonitão, olhos azuis, quer ser missionário na India e quer que Jane vá com ele. Ela diz que vai, mas não como sua esposa, ela quer ser livre porque sabe que St. John não a ama (e ela conhece o amor), e só a quer como esposa de um missionário. Depois de muito debater as idéias e uma pressãozinha do St. John, ela se convence de ir como esposa dele para India, mas antes ela precisa saber o que aconteceu com o Mr. Rochester.

Jane vai até Thornfield Hall e descobre a casa destruída pelo fogo. Lá um antigo mordomo conta que a esposa louca do Mr. Rochester fugiu, colocou fogo em toda a casa, subiu no telhado e se jogou. O Mr. Rochester tentou tirar todos da casa, mas uma viga caiu, ele ficou cego e perdeu uma mão.

Jane vai atrás do Mr. Rochester, e fica com ele. Fim do sofrimento.

Apesar de toda essa tragédia, em nenhum momento eu senti pena da Jane Eyre. Charlotte Brontë, além de escrever muito bem, criou uma personagem excelente, forte. Jane é uma feminista na Inglaterra de 1800. Ela se educou, se virou para encontrar um emprego, não se deixou dominar por um homem, caiu e levantou, e foi atrás do que queria. No capítulo conclusivo ela nos fala que sua relação com o Mr. Rochester nunca é tediosa, que eles conversam o dia inteiro e nem sempre com palavras, que há uma conficança mútua e muito amor.

Dito isso, eu mantenho a minha posição de Rock Star. O livro Jane Eyre é assim como a vida dela, interessante mas sem grandes emoções (pelo menos para mim). Wuthering Heights tem uma das piores personagens femininas de todos os tempos, a Cathy, mas o Heathcliff tem emoção para carregar o livro inteiro nas costas e eu gosto da montanha russa que é o livro. Em Jane Eyre, ela fala diretamente com o leitor, inclusive chamando atenção em várias partes, mas, ainda assim, me senti fora do loop em algumas partes. Em Wuthering Heights nós estamos sempre por dentro da fofoca.

Mas eu vou dizer onde foi que Jane Eyre me perdeu. Eu gostei do Mr. Rochester, apesar de achar que ele era um papa anjo, afinal ele tinha 40 anos e ela 19, mas bem no fim do livro ele fala uma frase que me fez gostar ainda mais do Heathcliff. A Jane diz que sua prima vai esperar o fim da lua de mel para ir visitá-los e Mr. Rochester responde "She had better not wait until then....if she does, she will be too late, for our honeymoon will shine our life long; its beams will only fade over your grave and mine.". Cafona.

Nunca vi nenhum filme da Jane Eyre, mas um novo vai ser lançado ano que vem e, pelo trailer, parece bom. Tem o Michael Fassbender de Mr. Rochester, já vale o ingresso.

3 comentários:

  1. hahahaha! adoro suas resenhas bem-humoradas :oD é, mr. rochester derrapou no final, mesmo...

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  2. Só acho que essa estória de a "mocinha" ficar com o cara aleijado no final é muito machista, e embora se encaixe em um romance de 1800, nunca seria uma atitude que um homem tomaria. Penso que ela poderia sim, demonstrar compaixão, mas ficar com ele, nunca. Jane Eyre sendo ela mesma.
    Enfim,coisas de romances de séculos atrás.
    Elaine
    elaine.frango@gmail.com

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    1. oi Elaine! no final ela conta que a relação dos dois é de muita cumplicidade e durante todo o livro ela é sempre responsavel por suas escolhas, então acho que se ela não quisesse não teria ficado com Mr. Rochester e teria ido para India com o primo.
      não tem como um livro de 1800 não ter algum viés machista aos olhos de hoje, mas acho que esse é até bem feminista para a época.

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