4.12.11

Heathcliff e Gatsby

Essa semana estava no youtube e, um video leva a outro, parei nos primeiros 10 minutos do Grande Gatsby (no youtube tem o filme inteiro). O filme com o Robert Redford, e roteiro do Coppola, é bom, acertaram na estética dos anos 20, e é bem fiel ao livro. Então, na lateral sempre tem uns videos relacionados e ali estava um link para um video com a música Wuthering Heights com cenas do filme de mesmo nome com o Ralph Fiennes e Juliet Binoche. Esse filme não é tão bom, aliás, é ruim, mas o que me chamou atenção é que nunca tinha relacionado o Heathcliff com o Jay Gatsby e o youtube me fez pensar nas semelhanças.

Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes), escrito por Emily Bronte, foi publicado em 1847. O grande Gatsby, escrito por F. Scott. Fitzgerald, foi publicado em 1925. Dois clássicos da literatura inglesa e americana. Obras narradas por um espectador presente nos eventos, em WH é a empregada Nelly e em Gatsby é o vizinho, e primo da mocinha, Nick. Os dois personagens principais de ambos os livros tem muito em comum, me fez até pensar que talvez o F. Scott Fitzgerald tenha se inspirado no livro da Emily Brontë.

Claro que depois de uma rápida pesquisa no google achei alguns textos fazendo essa relação, mas aí vai a minha análise.

(Com possíveis spoilers)

Heathcliff e Jay Gatz eram dois garotos pobres. Heathcliff era um orfão que foi adotado pelo Sr. Earnshaw e Jay foi ganhar a vida no exército. Ambos se apaixonam, Heath por Cathy e Jay por Daisy, e as duas preferem o dinheiro a ficar com eles.

Heath e Jay decidem vencer na vida e ficaram ricos. Não se sabe como o Heathcliff ficou rico, mas o Jay Gatsby (já com nome trocado), depois de lutar na guerra, se envolve no ramo do contrabando de bebidas ná época da lei seca americana.

Os dois retornam para rever suas amadas. Heathcliff compra a propriedade de Wuthering Heights e se torna vizinho de Cathy (que já casou com outro). Jay Gatsby faz festas fantásticas, em sua casa faraônica, na esperança que Daisy, também casada com outro, vá aparecer.

Quando as duas mulheres descobrem que ambos estão ricos, e podem dar tudo que elas sempre quiseram, elas não largam tudo para ficar com eles. O que elas fazem? Ficam na dúvida. E quando são pressionadas: uma morre doente de dúvida e a outra se envolve em um acidente com consequencias trágicas.

Me chamou atenção que os heróis são apaixonados (obcecados?) por duas personagens chatinhas.

A Cathy é tão mimada e insuportável, que mesmo concluindo que o Heathcliff é a coisa mais importante da vida dela ("He is more myself than I am.") ela escolhe a vida ao lado do vizinho rico. E quando o Heathcliff a confronta, ela diz que quer os dois.

Daisy é tão chata quanto a Cathy. Joga na cara do Gatsby que não casou com ele porque ele não tinha dinheiro e depois quando já sabe que ele é rico e quer ficar com ela, fica na dúvida, mesmo com um marido abusivo que a trai. 

Heathcliff sobrevive a morte de Cathy e passa a fazer de tudo para ser dono da propriedade vizinha. No fim ele até vê o fantasma da Cathy. Jay Gatsby também não foi feliz no seu destino, assumiu a culpa do crime da Daisy e morreu por isso.

Tanto Emily Brontë, quanto o F. Scott Fitzgerald conseguiram criar personagens masculinos interessantes, com personalidades definidas, apaixonados e obcecados. Emily Brontë até tenta fazer de Heathcliff um vilão, mas não consegue esconder a paixão dele, ele é humano. O Jay Gatsby do  F. Scott Fitzgerald, é um pouco mais ingênuo que o Heathcliff, é também um mentiroso com boas intenções, mas está ali por um motivo e se dedica até o fim. Dois homens que vão atrás de duas mulheres pela imagem que idealizaram.

As histórias podem ser parecidas, mas os livros são bem diferentes, e muito bons. Recomendo. Cada um retrata uma época específica e um lugar diferente. A vida nos campos do norte da Inglaterra no século 19 é tão peculiar quanto a vida dos ricos no litoral americano em 1920.



Um comentário:

  1. Confesso que tbm não tinha pensando nisso... Mas obrigado pelas relações, pelas ligações. Levou meu entendimento sobre essas duas obras a um novo nível.

    Abs.

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