10.7.12

Charles Dickens Walk



Da outra vez que estive em Londres fiz a caminhada do Jack, e decidi que iria fazer um desses walking tours toda vez que viesse a cidade. Dessa vez escolhi A Londres de Charles Dickens.

Charles Dickens é um dos grandes escritores ingleses, um excelente crítico social de sua época e um exímio conhecedor de Londres e seus moradores. A história pessoal de Dickens é tão interessante quanto seus livros, mesmo porque muitas de suas histórias são baseadas em sua vida.



Eu li: Oliver Twist, David Copperfield, Grandes Esperanças e A Tale of Two Cities.

Nascido em Portsmouth em 1812, ele teve uma vida boa até seu pai ir preso (por dever dinheiro). A mãe e irmãos mais novos foram morar com o pai na prisão para economizar e o pequeno Charles teve que ficar com uma amiga da família em Camden Town. Aos 12 anos teve que largar a escola e trabalhar numa fábrica (onde ele observou as condições de trabalho e a dureza da vida de operário). A avó morreu e deixou uma herança que tirou o pai da cadeia, mas a mãe insistiu que ele continuasse trabalhando na fábrica. Quem mandou Dickens de volta para escola foi seu pai quando o viu trabalhando na vitrine da fábrica.

Charles Dickens estudou e foi trabalhar como escriturário/estenógrafo em um escritório de advocacia. Ele era cheio de energia, tinha insônia, andava muito pela cidade, e aos 20 anos começou a escrever histórias para uma revista. Seu primeiro sucesso foi The Pickwick Papers, uma crônica sobre a vida londrina que foi escrita originalmente como um seriado (histórias publicadas em partes nas revistas). Aos 26 anos ele escreveu Oliver Twist, um de seus clássicos.

the royal courts of justice
Todos os livros de Dickens eram histórias seriadas e ele era o rei do cliffhanger, deixando seus leitores todos em suspense, curiosos, esperando o próximo capítulo. Por isso, até hoje, suas histórias traduzem bem para veículos modernos como a televisão. Ele também era um entusiasta do teatro, gostava de escrever peças e de atuar nelas.



Charles Dickens não é um escritor que só ficou famoso depois de muitos livros, ou depois de morrer, ele adquiriu fama desde cedo e ganhou muito dinheiro escrevendo e mais tarde fazendo leituras de suas histórias.

Sua vida pessoal é cheia de fofocas. Ele se casou, depois separou, havia rumores de um caso com a cunhada e com uma atriz. A Rainha Victoria quis conhecê-lo e nas duas ocasiões ele disse não. Polêmico. Charles Dickens também era um filantropo, ajudava muito os mais pobres, desde doações até as críticas que escrevia em suas histórias, fazia o que podia para melhorar a vida das pessoas.

Uma das coisas que o guia disse de Oliver Twist, é que hoje é só uma excelente história, que nós não precisamos saber exatamente qual era a situação política e social da época para entender e gostar do livro. Na época em que foi escrito e publicado foi uma crítica ao sistema social vitoriano, especialmente as workhouses (casas de trabalho para os pobres).

O walking tour começa na estação de metrô Temple, na beira do Tamisa, e ali já ficamos sabendo de toda infância de Dickens e como era Londres nessa época (sem nenhum saneamento - que só começou a ser feito em 1854). A primeira parada é em Temple, uma área, até calma, no centro de Londres onde ficam os principais prédios de escritórios de advogados, alguns tribunais, a OAB inglesa, e é perto do palácio de justiça. Dickens trabalhou ali e alguns de seus personagens viviam ali, como Pip de Grandes Esperanças.




pip morava nesse prédio

Andamos por trás da London School Of Economics, área onde era a bolsa de valores na época do Dickens e tem até o pub que ele frequentava. Ali perto fica a The Old Curiosity Shop, título e tema de um dos livros de Dickens. Depois um passeio pela Russell Street até o Theatre Royal Drury Lane, onde Dickes atuava com suas filhas em peças. E no outro quarteirão, perto de Covent Garden, ficava o escritório da revista onde Dickens publicava suas histórias e recebia amigos nos andares de cima. Hoje é um café.


No meio do tour o guia parou para mostrar onde foi filmado o banco Gringotts no filme do Harry Potter. Aí me perguntei: "o que diabos tem o Harry Potter a ver com o Charles Dickens?" e achei que foi só uma curiosidade. Mais na frente ele nos disse que assim como Harry Potter, os livros de Dickens, na época, também renderam peças de teatro e merchandising, sendo que Dickens não ganhou nenhum tostão com isso, enquanto que JK Rowling, bem, vocês sabem.

O tour termina perto de Covent Garden, em frente a vitrine do que era a fábrica onde Charles Dickens trabalhou quando criança e o guia nos conta como seu pai passou ali, o viu, e mandou ele voltar para escola. Ainda bem.

O guia era muito bom, e mesmo para quem nunca leu Dickens, vale a pena. Garanto que depois dessas duas horas a primeira parada vai ser numa livraria para comprar Oliver Twist ou David Copperfield e a segunda vai ser no parque para começar a ler.
"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to heaven, we were all going direct the other way - in short, the period was so far like the present period, that some of its noisiest authorities insisted on its being received, for good or for evil, in the superlative degree of comparison only." (A Tale of Two Cities)
Muitos lugares em Londres tem o nome do escritor ou de seus personagens. Fui tomar uma cervejinha no The Dickens Inn, um pub em St. Katherine's Dock, uma área tranquila bem do lado da Torre de Londres. Dentro tinha mais uma frase de The Tale of Two Cities, apropriada ao bar: "Those were drinking days and most men drank hard.", Dickens devia saber que esses drinking days continuariam até hoje.



A casa-museu do Charles Dickens fica em Bloomsbury, perto da estação de metrô Russell Square ou Holborn. Está passando por uma reforma e estará fechada até dezembro de 2012 (justamente o ano do bicentenário de nascimento do escritor, go figure.)

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